O momento
é de desencanto. São tantas notícias negativas, tanta crueldade,
tanta selvageria tomando conta do noticiário que não há como se
manter isento a tudo isso. Muito embora as notícias sejam frequentes
aqui no nosso chão, sabemos que os excessos são cometidos em todo o
mundo, causando a impressão de que a humanidade vem sendo assaltada
por uma horda que nada teme. O gênero humano está em cheque. A
sociedade, que se pretende civilizada, vez por outra é colhida por
um bombardeio de acontecimentos repugnantes e, até certo ponto,
inexplicáveis à luz do conhecimento teórico que vamos acumulando
ao longo dos tempos.
Até
onde chegará o ser humano? Qual o limite da perversão do homem? O
que fazer diante de fatos que atentam frontalmente ao pensamento de
que o homem é um ser que tende a se aperfeiçoar?
A
fixação de penas mais severas parece ter sido a tese preferida nas
redes sociais. Porém, uma realidade se impõe e merece ser
analisada. Um caso aqui, outro acolá não causam grande comoção. A
sociedade vai se acostumando com notícias negativas. É aquilo que
chamamos de banalização da violência. Ou seja, de tão repetitiva
ela vai sendo aceita como se normal fosse no nosso cotidiano. Uma
morte no trânsito no feriadão não assusta ninguém, muito embora
traga dor e sofrimento aos familiares e amigos da vítima. Um ônibus
que cai no precipício deixando dezenas de corpos massacrados causa
comoção. A regra, no entanto é que o choque sempre vem quando
ocorre um caso específico e sui generis. É o
inusitado que comove. Como é chocante este caso aqui no Estado, onde
um menino no alto de seus 11 anos foi brutalmente assassinado por
quem tinha dever de cuidá-lo, de protegê-lo, de investir em sua
felicidade.
A
instabilidade emocional (compreensível e até desejável em momentos
como este), move as pessoas a comentar freneticamente. Como não
poderia deixar de ser, é necessário que se aponte objetivamente de
quem é a culpa? A emoção levou centenas, talvez milhares de
pessoas, a culpar o sistema (como fazíamos no passado não muito
distante). Por sistema entende-se toda a estrutura social, que inclui
governantes, legisladores, judiciário, Ministério Público,
segurança pública e todas as organizações que, em tese, teriam o
dever de preservar a vida.
O que
se quer, o que se deseja, o que seria o esperado é que este
“sistema” pudesse alcançar o objetivo primordial da nossa
Constituição, que é a garantia da vida. Porém, numa análise mais
fria, destituída deste sentimento de perda, haveremos de concluir
que o que menos a sociedade tem são garantias objetivas. A lei é
um primor, porém a prática é quase nula.
Talvez
por isso, entenda que as leis, que podem ser brandas e ineficazes em
muitos dos casos, não mudam o comportamento social. Nos EUA, durante
décadas, vigorou a pena capital. Porém, crimes não deixaram de ser
cometidos. E, o pior, o Estado se mostrou incompetente inúmeras
vezes, condenando à morte inúmeros inocentes: pretos e pobres.
Contra
o ser humano sórdido, cruel e sanguinário não há norma, não há
lei que o contenha. Não há resposta que possa encurralá-lo. O pior
é que, muitas vezes, a perversão não está no mundo lá fora. Em
muitos casos, como este em voga aqui no nosso Estado, os inimigos
estão dentro de casa.
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