Serius é
um deus esquecido. Não adianta procurar na mitologia porque lá ele
não está. Segundo o célebre estudioso Neutralis, que conhece os
bastidores romanos, gregos, africanos e outros menos cotados, de fio
a pavio, Serius foi banido por Júpiter para sempre. O que ele fez
para desagradar Júpiter ninguém sabe e ninguém jamais saberá.
Como para sempre não existe, consta que neste exato momento Serius
encontra-se reencarnado como um cidadão comum, desprovido de
qualquer poder, no meio de nosso querido e amado Brasil.
Apesar
de ter perdido seus poderes majestosos, Serius mantém-se como um ser
retilíneo, circunspecto, pensador e, por consequência, pouco dado à
galhofa e às farofagens que marcam nossa vida cotidiana. Ele tem um
defeito: em princípio acredita no que os outros falam. Como dizem os
mais descolados, Serius não tem jogo de cintura. Mas, não é um
ingênuo. Serius tem como princípio dar crédito às teses alheias
e, depois, no recolhimento noturno, enquanto se delicia com uma
providencial taça de vinho tinto, com o vagar que convém, se
entrega à racionalização das coisas.
A vida
nos últimos dias tem sido dura até mesmo para Serius. Na semana
passada quando passeava pelo centro da cidade, influenciado pela
“pesquisa” de um órgão do Governo de que seis e meio em cada
dez dos homens são potenciais estupradores, Serius não entendia
como nem porquê. Tinha uma leve desconfiança de que aquela história
estava muito mal contada. Chegou em casa e se pôs a escarafunchar na
internet. Visitou blogs e sites de feministas e achou tudo muito
sério. Num deles a moça, muito culta por sinal, que talvez não
tenha nascido de manipulação genética, abria guerra contra todos
os homens do mundo. Dizia que queria acabar com esta raça infeliz,
imunda, que só traz desgraça à humanidade, que usurpa das mulheres
e patatipatatá. Em princípio Serius acreditou.
Outra
moça narrou que foi estuprada no Haiti. Porém, agradece ao
estuprador que a fez abrir os olhos para realidade cruel: ela, num
lance de magia enquanto sofria ardentemente por ter seu corpo
violado, viu uma luz em sua frente que identificou no estuprador a
sociedade patriarcal e imunda que oprime as mulheres.
Moças
bem-intencionadas expunham fotos sem roupa, com expressões
carrancudas portando cartazes dizendo que não mereciam ser
estupradas.
À
noite, ele se recolheu como de costume. E o vinho desceu pela sua
garganta, mansamente como sempre. E Serius começou a meditar.
Porém, no meio do exercício foi despertado pelo som que saía da
tevê onde um apresentador com cara indignada dizia que o “estudo
científico” do Governo havia sido divulgado com graves distorções.
Serius não entendeu mais nada. Como assim, engano? Como assim, muda
tudo? Como assim, o caso é grave mas não é tanto? Como assim? Como
assim? Como assim?
Serius
neste momento está passando por alguma dificuldade. Na noite passada
passou pela sua cabeça buscar algum apoio. Talvez um psiquiatra, um
psicólogo ou um terapeuta. Parafraseando Caetano, o Brasil fundiu a
cuca de Serius.
O que
Serius não sabe (e é bom que nem venha a saber) é que nos
encontramos no país da pegadinha. A mais nova (e sempre tem algo
novo e surpreendente por aqui), um professor resolveu chamar uma moça
destas do funk, Valeska Popozuda, de grande filósofa em uma prova.
Isto causou perplexidade em um aluno que postou parte da prova nas
redes sociais. Serius ainda não viu esta matéria. Se encontrá-la
pensará, pelo menos num primeiro momento, que a grande contribuição
do nosso país para a filosofia é mesmo a Valeska.
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