Vinil O Fino da Fossa, volume 2 |
Ouvia
no rádio uma música da Bossa Nova. Lembrei que o movimento, muito
embora tenha sumido há algumas décadas, deixou um legado importante
no panorama musical mundial. O jeito sereno e limpo, sem a
necessidade de que um vozeirão se impusesse sobre a música, nasceu
aqui no Brasil. Mais especificamente tendo como cenário as belezas
do Rio de Janeiro, então Capital da República. Começou lá pelo
final dos anos 50, dentro de um panorama de euforia e de valorização
da brasilidade. Espalhou-se pelo mundo, agregando valores da música
norte-americana como o jazz.
Com isso, lancei-me no
exercício de lembrar de coisas que apareceram, fizeram parte da
história das pessoas e depois sumiram. Não é bem o caso da Bossa
Nova que continua ainda fazendo muito sucesso no meio artístico nos
EUA, na Europa e no Japão. Pensando bem, o termo em si é que talvez
tenha ficado no passado. Quantos destes meninos que atravessam as
cidades de skate, que caminham pelo centro e pelos bairros carregando
suas mochilas nas costas, com seus bonés cuidadosamente relaxados em
suas cabeças, com seus fones inevitavelmente tapando seus ouvidos,
sabem o que é bossa nova?
E
não há que julgá-los. Acontece que algumas expressões somem.
Deixam a nítida impressão que um belo e insuspeito dia pegam o trem
e se afastam para bem longe. Não estão mortas, ainda vivem. Mas
estão distantes dos nossos olhos e de nossos ouvidos. São como
aquelas pessoas, conhecidas nossas, que um dia compartilharam de
algum momento conosco e que não vimos há muito tempo. E, vez por
outra, nos encantamos ao encontrá-las. Tomados de surpresa,
controlamos a vontade que dá de dizer; “puxa, tu ainda estás
viva?”.
Entre
as expressões, as que mais tomam gosto pelo sumiço são as gírias.
É razoável, são transitórias. Aparecem como modinhas e depois vão
cansando, perdem o gosto como o feijão que foi servido novinho na
segunda-feira e vem resistindo bravamente, dando o ar da graça todos
os dias. Na sexta não há quem o ature. Talvez nem seja correto
dizer que elas somem. Pode ser que, desgastadas pelo uso insistente,
elas sejam abandonas ao relento e permaneçam numa espécie de limbo.
Não são mais vistas, ouvidas e aceitas. Algumas renascem, outras
estão fadadas ao extermínio.
Lembrei da Bossa Nova e, como
se atraída por um ímã, me aparece no cérebro a expressão o fino
da fossa. A fossa era o apelido dados às canções românticas dos
anos 50 que exaltavam a dor, o sofrimento e as agruras de amores mal
resolvidos. Estar na fossa era uma gíria que significava que o
indivíduo passava por um período negativo, uma fase ruim. No caso
da música, normalmente estava relacionado à dor de cotovelo ou
melhor, traduzindo para os dias de hoje, às dores da vida amorosa,
do desprezo, da traição.
E
não é que, pesquisando, encontrei até um livro de um jornalista
que se dedica a recuperar expressões que caíram em desuso. Aberto
Villas, escritor e colunista da Carta Capital, vinha juntando uma
série de palavras que caíram for ado vocabulário atual. Antes que
sejam totalmente esquecida, assumiu o posto de garantidor da vida de
expressões como milico (militar), garrucha (espingarda), radiola
(rádio), coqueluche (última moda), manequim (modelo, top model),
entre tantas outras. Lançou um dicionário chamado "Pequeno Dicionário da Língua Morta", pela Editora Globo".
Não
consultei a obra, mas acredito que no seu interior devem constar
expressões como calça de brim (jeans), brim Coringa (marca),
bigorrilho (tratamento carinhoso para filho), cuca (cabeça), bafo
de onça (mau hálito), brasa mora e broto. Bicho não precisa
constar pois Roberto Carlos anualmente, no especial da Globo, vai
usá-la quando conversar com seu amigo, seu irmão, o Tremendão
Erasmo Carlos.
Para saber mais:
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