16/09/2014

A perda da paz

Estava pesquisando algo sobre pena e me aparece um texto, de autoria do professor português Eduardo Henriques da Silva Correa, que trata sobre os códigos penais dos primeiros séculos de Portugal. Tempos difíceis aqueles. De constantes guerras, invasões, perseguições e muita crueldade. A vida não era fácil para ninguém. A legislação penal dos patrícios era um tanto quanto forte em vários aspectos. As penas eram extremamente graves. O próprio rei determinava a sanção. Muitas vezes impondo agravantes ainda mais cruéis do que as penas já estabeleciam nas ordenações.
A blasfêmia, falar mal do rei (de seus filhos, sobrinhos, tios e de qualquer membro da Corte), era um dos crimes mais graves, por óbvio. Não havia espaço para oposição. Os faladores eram punidos com a fogueira. Antes disso, talvez para garantir que no outro mundo o indivíduo não repetisse o ato, a língua do indivíduo era extraída pela garganta. A execução na fogueira somente ocorria após 20 dias dos atos preparatórios (extração da língua). Ou seja, falar mal do rei não era um bom negócio naqueles tempos.

10/09/2014

Coisas inúteis

Um bom vinho é a dica de Sêneca
Sábio é aquele que não gasta energia nem tempo em coisas inúteis. É o homem que não se mistura com a multidão simplesmente porque todos assim o fazem. É aquele que não sente medo de contrariar a maioria, que vota em quem acredita e não em quem os outros querem. Também é sábio aquele que não corre atrás daquilo que no futuro se revelará como algo totalmente inútil e desprezível.
Não pense que tudo isso é resultado de alguma reflexão aprofundada e minha lúcida análise das coisas do dia a dia. Não! Esta é a interpretação que faço de uma das passagens de Sêneca, em Da Tranquilidade da Alma. O filósofo, dramaturgo, político e escritor latino, analisava a complexidade do ser humano e seu anseio na construção de um estado vivencial mais feliz.
Sua receita, no entanto, apresenta uma série de remédios amargos. Não há doçura, não há espaço para sonhos e magias. Lúcio Anneo Sêneca corta o corpo sem dó nem piedade. Expõe as entranhas do homem e mostra onde se escondem as armadilhas que vão sendo construídas ao longo dos tempos. A razão toma conta sobrando pouco de improvisação, enterrando aquele doce sentimento de que as coisas boas serão encontradas no olhar despretensioso e casual. De que as respostas aos nosso anseios saem do nada, como se doces anjos assoprassem em nossos ouvidos aquilo que nossas mentes pouco brilhantes custam a encontrar.

03/09/2014

O reino das palavras

Existe mesmo um reino das palavras. É um lugar onde novas e velhas palavras organizadamente convivem. Todas elas, em todas as línguas, descansam neste local, saindo dali somente quando necessário. Descansar não é o termo mais apropriado, eis que algumas delas não encontram tempo para isso tal a insistência em incluí-las nos discursos diários, nas manchetes dos jornais e nos noticiários televisivos.
Em épocas como as de hoje, onde graça na Terra a violência, a intolerância, a vingança, o ódio, a guerra e o conflito, estas mesmas expressões não se entregam ao ócio. Estão nas bocas e nas mentes a todo instante. Transitam para lá e para cá com uma rapidez impressionante. Não têm sossego.