Existe
mesmo um reino das palavras. É um lugar onde novas e velhas palavras
organizadamente convivem. Todas elas, em todas as línguas, descansam
neste local, saindo dali somente quando necessário. Descansar não é
o termo mais apropriado, eis que algumas delas não encontram tempo
para isso tal a insistência em incluí-las nos discursos diários,
nas manchetes dos jornais e nos noticiários televisivos.
Em
épocas como as de hoje, onde graça na Terra a violência, a
intolerância, a vingança, o ódio, a guerra e o conflito, estas
mesmas expressões não se entregam ao ócio. Estão nas bocas e nas
mentes a todo instante. Transitam para lá e para cá com uma rapidez
impressionante. Não têm sossego.
Enquanto
isso, tolerância, cessar-fogo, negociação, entendimento, superação
e paz permanecem aguardando. Verdadeiramente esperam a sua hora e a
sua vez. Aguardam por bocas mais lúcidas que hoje não são ouvidas
dos homens mais preocupados com os humores da discórdia.
Como
para tudo se requer ao menos um pouco de organização, creio que
neste mundo imaginário, o território seja definido pela afinidade.
De um lado estão reunidas todas aquelas identificadas com as cargas
mais negativas. Compõem o clube do ódio, da intolerância e da
vingança. Por si só são pesadas e agressivas. Desrespeitosas.
Para
compensar há aquelas que se identificam pela carga positiva.
Apresentam certa leveza. Certamento há o clube da fraternidade, onde
vislumbram-se o amor, a amizade, a compreensão e a caridade. Há, por
certo, outros cantões, com conotações distintas, como, por
exemplo, o da ignorância, onde habitam o preconceito, a
discriminação, o fanatismo, o sectarismo, o fundamentalismo e
outros da mesma espécie. É um local de pouca luminosidade. Denso.
E, em
contraponto, deve existir em algum lugar, num belo e aprazível vale,
o cantão do conhecimento. Neste setor do reino se encontram todas as
expressões que desnudam as realidades mais intrincadas. Estão ali
as revelações que libertam os seres e os impulsionam para a luz.
Vez por
outra, por uma boca qualquer, impulsionada talvez por instintos dos
mais primitivos, uma palavra pode ganhar o mundo. Se houver uma
câmera e um microfone captando em rede nacional, então, ela se
espalha. E se torna um forte tormento. E uma agressiva palavra
gritada a plenos pulmões nestas circunstâncias é capaz de eliminar
a boca que o falou. E, o pior, colar na testa de tantos outros que
não falaram, que nem ao menos pensaram.
A
vergonha deve sair de seu canto e transitar por aí, com muito mais
intensidade. Não, a hipocrisia não precisa se mostrar. Ela pode
ficar no seu lugar. Deveria ao menos. Metida como ela, mestre do
disfarce, é capaz de se infiltrar com rara sabedoria, se misturando
com outras tantas palavras. Em alguns momentos parece se tornar
invisível. Não duvido que esteja presente nos julgamentos que
virão.
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