A turma
não era fechada. Havia um núcleo de três ou quatro fiéis
escudeiros. Somavam-se mais quatro ou cinco preferenciais. A partir
daí havia liberdade de buscar novos horizontes nas redondezas.
Muitos destes contatos não aderiam à turma. Mas faziam, isso sim,
parte da vida de alguns deles.
Não
precisa dizer que eram adolescentes. Viviam na pequena cidade. O
mundo era a rua. As garotas eram, em regra, as irmãs dos membros do
grupo. Bem, na verdade, não eram suas garotas. Muitas delas eram sim
o que queriam como suas garotas. Porém, não avançavam muito neste
terreno.
Vez por
outra apareciam, de surpresa, algumas pessoas que não faziam parte
do grupinho, mas, por uma ou outra identificação, acabavam
participando de algumas das ações.
Certa
vez, a turma acabou recepcionando um belo rapaz, moreno, de olhos
verdes, simpático e extremamente afetivo. Tinha um físico
privilegiado. Era forte e simpático. Algumas vezes se encontram na
rua, trocando ideias, discutindo pequenas questões de suas vidinhas.
Porém, ele era volátil. Aparecia vez por outra e sumia sem deixar
rastros. Ele era livre. Não se prendia à turma. Era independente.
Dele pouco se sabia. De sua boca ouviam dizer que era filho de um
político conhecido na cidade. Parece que sua mãe era empregada na
casa e teve um caso fortuito com o patrão. Por não ter sido
reconhecido como filho, carregava uma mágoa no peito, apesar de seus
olhos sorrirem com frequência.
Num
destes encontros rápidos, disse que no dia seguinte viajaria. Iria
para Brasília tentar a vida. Queria algo diferente para si e para
sua mãe. Estava determinado a procurar uma carona na BR 101 e dali
iria aos poucos, até chegar à Capital Federal. Não sei se se
abraçaram. Não sei se desejaram boa sorte. Talvez tenham sido
frios. No íntimo, tinham certeza que tudo daria certo. E se não
desse, voltaria a sua vidinha cotidiana. E voltariam a se encontrar
talvez com mais frequência do que ocorria então.
Alguns
dias depois, num dos encontros da turminha algum amigo em comum
falou: “lembra do nosso, aquele que ia pra Brasília de caminhão?
Ele não chegou lá. Fiquei sabendo que sofreu um acidente na
estrada. O caminhão bateu. Ele morreu!”. Um silêncio tomou conta
da turma. O tempo congelou por longos minutos. Estavam pasmos. Como
assim? Isto não pode ter acontecido! Repetiam, chocados com a
notícia. Alguns saíram a caminhar. Primeiro em silêncio. Depois
começaram a buscar justificativas. Não havia explicação. Não
tinha como aceitar aquilo. O cara estava alegre.Tinha felicidade nos
seus olhos verdes, embora o coração sangrasse. Não tinha como dar
errado. Mas deu.
A
morte, que até então não fazia parte dos papos da turma, se
apresentou de maneira traiçoeira.
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