Os
pássaros já fizeram seu alarido. E isto começou muito antes de
acordar. Aliás, a vida segue sempre. Não dá
tréguas.
O corpo descansou, é certo. Mas, a viagem foi grande. Tem
sido grande. É estranho. Muito estranho pensa Leonel, lembrando que
tem feito longos trajetos. Esteve em locais que não lembrava mais.
Fez coisas que não sabia. E agora, quando acorda, a impressão que
tem é a de que esteve atuando em um filme. Cenas de violência, de
traição, de guerra, de amizade e de amor.
Porém,
sente que este filme só foi visto por uma pessoa. E que sua atuação
talvez não tenha sido das melhores. Que o roteiro não seja dos
melhores. Que as histórias contadas não sejam das mais
inspiradoras. Mas, a pior sensação é a de que não tem acesso a
esta sala. E, de algum modo, sente com se houvesse certa injustiça
no ar. Leonel gostaria muito de ver esta película. E, quem sabe,
discuti-la. E, quem sabe, reinventá-la. Quem sabe refazer aquelas
cenas que não ficaram boas.
Independentemente
disso, segue fazendo as coisas que deve. Faz as coisas que espera
fazer, que os outros esperam que faça. Mas, não nega: seu peito
sente. Sua garganta também. Seus olhos, tão seguros, às vezes
falseiam.
Hoje,
enquanto o cantor melancolicamente narrava o distanciamento da
pátria, sua dor por ter sido afastado dos que o amam, sentiu um nó
na garganta. Não sabe cantar. Apesar disso, Leonel, bem sabe o que o
abate. Mas não sabe explicar. E, sem explicações, vê como é ruim
perder as palavras. É como ser traído. É como deixar partir o
último trem da noite e ter que esperar o dia seguinte na estação.
É como se deixar levar e não conseguir voltar. Bem sabe Leonel que
isto é passageiro. Tudo na vida passa. Mas, a sensação, ainda
assim, não é das melhores.
Hoje é
sexta-feira. É um Dia de Primavera. Seus olhos se abriram cedo da
manhã. Segue fazendo o que tinha que fazer. Mesmo sem empolgação.
Mesmo sem vibração.
A noite
chegará e vai descansar novamente. Talvez possa ver o filme que não
viu hoje. Talvez!
E,
amanhã, quando abrir os olhos, os pássaros terão feito todo o seu
alarido. E mais um dia começará para Leonel.
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