As cores
vibrantes dos anos 80 estão de volta. Vermelho, azul, verde e
amarelo estão em bermudas, calçados e na camisetas. É um
revival new wave nas roupas. As vitrinas estão mais coloridas,
não obstante as diferenças marcantes entre os tempos da esperança,
dos sonhos e estes de hoje. Deixando as filosofias e as apreciações
de boteco de lado, vamos ao que importa.
Dia
desses ousei entrar em uma loja. Me chamou a atenção uma bermuda de
uma cor um tanto quanto exótica: algo como um vermelho levado ao
rosa ou ao abóbora. Enfim, a cor pouco interessa. A atendente,
educada e atenciosa (como deve ser uma atendente) mostrou o produto
desejado. Deu o preço à vista e o final, em caso de crediário.
Confesso que olhando o produto de perto meio que houve um desencanto.
Porém
desencanto maior veio a seguir quando a mocinha, do alto de seu
conhecimento de moda, resolveu adotar o papel de consultora de imagem
dizendo: “esta bermuda deve ser usada com camiseta de cor neutra
(um branco ou no máximo um cinza claro e um calçado branco)”. Foi
demais para minha saúde (que vai bem, obrigado). Com tantas
imposições e tantas informações jogadas assim no meu peito, sem
prévia preparação, preferi abandonar o local e me refugiar na
lancheria ali perto, onde consumi uma água mineral gelada. Sem
pressa e sem imposições.
Ora,
que mania esta de vendedores se lançarem a consultores. E se o
cliente fosse torcedor da Lusa e optasse por usar uma bermuda
vermelha combinando com uma bela camiseta verde? E se fosse da
Mangueira e tivesse naquele momento a extrema vontade de comprar uma
bermuda rosa para combinar com sua camiseta verde e seu tênis também
verde (ou rosa)? Afinal: me leva que eu vou, sonho meu, atrás da
verde rosa só não vai quem já morreu!
Mas, no
comércio não é muito incomum fatos como esses.
Lembro
que, certa vez, isto em tempos idos e que não retornam jamais,entrei
numa destas lojas que pretendem atender preferencialmente a uma
clientela de jovens e de senhores bem sucedidos. Como tinha tempo, o
que é um tanto incomum, me arrastei entre as coloridas araras do
estabelecimento. Uma moça seguia atrás. Mostrou no início certa
paciência. Olhei daqui, olhei dali. Perguntei preços ene vezes.
Analisei o que pude, imitando aquelas mulheres que experimentam
milhares de roupas e depois dão tchauzinho. Eis que, depois de
algum tempo, vi que sua carinha, que me recepcionou com um sorriso na
entrada, já não estava assim tão tranquila e solícita. Talvez
tenha notado que à sua volta os outros vendedores afofavam vendendo
muita coisa para os jovens e senhores bem sucedidos, enquanto ela ali
se encontrava prostrada diante de um comprador indeciso e
claudicante.
Eis
que, de súbito, vi uma camisa que me chamou a atenção. Perguntei o
preço e ela, vingativamente, me olhou nos olhos e disse com um
sorrisinho denotando certo tom de sarcasmo: - esta é muito mais
cara! E pronto. Nosso diálogo terminou ali num seco ponto de
exclamação. Tivesse usados três pontinhos e daria ainda margem
para a sequência da conversa. A secura pôs fim ao papo sem que ela
ao menos lançasse algum tábua de salvação. Sem que eu ao menos
tivesse a humildade de dizer que “sim, não faz mal que seja mais
caro, eu quero e pronto”.
Cheguei
à conclusão que os olhos da vendedora estavam treinados para
atender jovens e senhores bem sucedidos. Talvez minha bermuda
surrada, minha camiseta sem uma marca assim tão fashion e minha
indecisão me afastaram do perfil preferencial do estabelecimento
comercial. Vai saber. Sabe-se lá que tipo de treinamento estas
meninas recebem.
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