A fogueira foi o meio encontrado pela Inquisição para validar suas ideias, impondo suas "verdades" |
Imaginemos
que esta verdade seja concebida por algum filósofo. Escolhemos por
acaso (ou não) Sócrates. Então Sócrates tem a verdade. E tudo o
que se sucedeu depois dele está intolerantemente derrogado. Nada
vale mais do que o pensamento de Sócrates. E fim.
É
claro que o conhecimento adquirido pelos homens ao longo dos tempos é
cumulativo. Antes de Sócrates tantos outros estabeleceram princípios
válidos. E depois deles milhares de seres tornaram a vida mais
complexa e cheia de opções.
De onde
surgiu, então, esta intolerância religiosa que submete a humanidade
aos pesadelos das ações terroristas? Que Deus é esse que está por
trás destas facções que destroem a vida, que espalham sangue de
meninos e meninas com o intuito de agradá-lo? Que obra macabra é
esta que preparam estes homens? Que sentimentos são estes, tão
brutais, que movem estes ensandecidos homens?
A
religião tem dessas coisas. Os dogmas afastam o homem das verdades.
E os dogmas não são concebidos por deuses, mas por homens que se
sentem como tal. Que acreditam autorizados pelos deuses. É claro que
a religião dogmática já submeteu a humanidade a desmandos tais que
manchou de sangue boa parte da história. Que o digam os queimados
nas fogueiras, os torturados de toda ordem, os perseguidos pela Santa
Inquisição, punidos por pensarem de forma diversa do clero e do
rei.
A
religião tem destas coisas. O sentimento religioso não. Este é
muito diferente daquele. As religiões que se fecham em torno de si,
que estabelecem povos eleitos pela divindade, que excluem todos os
demais porque não aderiram à grande ideia salvacionista, emprestam
um malefício enorme à humanidade. Talvez até de boa fé (desculpem
o trocadilho). Talvez entendam que estão corretos. Talvez entendam
que estão seguindo única e exclusivamente a ordem ditatorial de seu
deus. E, que o caminho prescrito, é esse. O Caminho Correto. O
Único. A Verdade.
Daí
nasce o fundamentalismo. Daí nasce este sentimento distorcido de que
Deus é muito mais o corretivo e o executor das penas. É o Deus
forte, cruel e humano. E este Deus é intolerante.
Imagine
que só há uma ideia válida. Como seria pobre o mundo de hoje se
uma única ideia fosse válida. Se só o racional mandasse, não
haveria sensitivos. Se só valesse o material, para quê
espiritualidade, mundo extrafísico e outras premissas. Se uma única
ideia fosse válida não haveria saída. Ainda estaríamos nascendo
com duas únicas possibilidades de futuro bem traçadas: o paraíso
iluminado ou o fogo do inferno.
Sócrates,
é certo, contribuiu para a humanidade. Mas também Jesus de Nazaré,
Platão, Confúcio, Buda, Lao-Tsé, Lutero, Gandhi, Allan Kardec, Os
Versos Védicos, Isaac Newton, os indígenas, os povos pagãos, os
homens comuns de todas as épocas têm contribuído sempre e
insistentemente para que o mundo seja melhor.
Acredito
nisso. Nunca haverá uma única verdade que eliminará todas as outras.
Fundamentalismo é o retrocesso. Fundamentalismo é o fim.
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