O
palmito é resistente, mas, ao mesmo tempo, é leve. Cede a uma
mordida dos dentes de Leonel. O milho é doce. O pepino, que não
gosta muito, até que faz um bom papel. A maionese dá o tom cremoso.
E o pão é leve. Um pedaço de torta fria é o que lhe restou.
Morde um naco e de sua boca sai um som estranho. Sua filha mais nova,
se ali estivesse, reclamaria do som da resistência do palmito. Coisa
feia mesmo. Mas, ninguém notou. Ou, se notou, não deu grande
importância.
É
sábado pela manhã. Leonel escolheu sentar numa das mesas do fundo.
Pela porta vê centenas de pessoas que passam e não enxergam quem
está dentro. “Por uns minutos me tornei invisível. Não fossem os
olhos de um ou outro que tomam seu café ou água mineral, além das
moças que atendem com dedicação e zelo, poderia estar nu. Do lado
de fora ninguém notaria”, pensa. Ri da idiotia que o assola,
enquanto nota que a taça de café com leite e a porção de torta
fria vão sendo consumidas sem que perceba. Parece que evaporam da
sua frente.