26/03/2015

Dois Mundos

O mundo se movimenta além dos nossos olhos. Há atividade onde nossos sentidos não percebem. Onde não nos encontramos, aí há vida. O que não enxergamos pode existir. E, em regra existe mesmo!
Neste exato momento, imersos em nossas preocupações mais elementares, a vida segue lá fora. O mundo acontece. A história não para. Em Londres agora são quatro horas a mais, em Kiev são seis horas a mais; em Manila são onze horas a mais. Enquanto aqui nos encontramos é possível que nas zonas em conflito (e há tantas em nossa Terra), algum general esteja planejando a forma mais correta de lançar um míssil para atingir um adversário. É possível que um grupo de indivíduos, sintonizados com os interesses mais mesquinhos e egoísticos, estejam planejando o ataque terrorista que vai sensibilizar o mundo. E todos acreditam, sem qualquer porção de dúvida, de que têm razões suficientes que justificam seus atos.
Por outro lado, neste mesmo instante, em algum lugar, dois seres, valendo-se da energia criadora que se espalha pelo Universo se encontram nos prazerosos atos que darão origem a mais uma vida. Pode ocorrer, também, que, recolhidos no seu angustiante silêncio, deixem escorrer uma lágrima ouvindo Ray Charles cantando as agruras de uma paixão que terminou em Yesterday, dos Beatles.
E a vida segue seu rumo. E nossos olhos estão postos aqui nas imagens que formam o nosso dia a dia.
O que ocorre, na verdade, é que o homem, especialmente nos dias de hoje, tende a analisar os aspectos da existência a partir da sua experiência. E a cultura atual privilegia a experiência física, suplantando toda e qualquer possibilidade extrafísica aos esotéricos, aos místicos, aos religiosos, aos loucos e alucinados de toda a ordem.
Estabeleceu-se assim, no pós-modernismo, período em que se vive nos dias atuais, a validação da vida tão somente pelo aspecto momentâneo. É necessária a resposta rápida. A participação instantânea. As comunicações são um exemplo: o smartphone é o mundo na nossa mão. É um aparelho que serve para uma conexão instantânea com tudo o que ocorre na Terra. É necessário participar desta rede, sob pena de se sentir ultrapassado. Estudiosos da mente humana estão catalogando a dependência tecnológica como a mais nova enfermidade. Os indivíduos estão conectados 24 horas por dia. Mesmo enquanto dormem seus smartphones permanecem ao lado da cama, atualizando-se, pois não há tempo a perder.
Zygmund Bauman, pensador polonês, autor de Amor Líquido, estabelece que os dias de hoje estão decretando o fim do futuro. Os ciclos são tão rápidos que não importa o amanhã. Importa tão somente o hoje.
Por outro lado, sabemos que a natureza se repete através dos ciclos. A vida física é transitória. Ela é impermanente. Ela se esgota com o fim do corpo. Os materialistas dizem que acabou o corpo acabou tudo. As próprias ciências estão relacionadas mais aos aspectos positivos. A psicologia tradicional, por exemplo, leva em conta a existência humana a partir do útero. Antes disso, nada existia. Os espiritualistas, os esotéricos, os místicos, os pensadores e os sensíveis entendem que há um mundo imenso além da dimensão física. Há realidades que nossas vistas não alcançam. E, mesmo que não acreditemos nisso, ela ainda existirá, eis que nossa ignorância não é capaz de revogar uma lei natural.
São duas visões absolutamente conflitantes. Um mundo percebido pelos olhos, apalpável, mensurável e um outro, tão amplo e incontido onde, afirmam tantos, é possível que se escondam as magias do Criador.

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