O
mundo se movimenta além dos nossos olhos. Há atividade onde nossos
sentidos não percebem. Onde não nos encontramos, aí há vida. O
que não enxergamos pode existir. E, em regra existe mesmo!
Neste exato momento,
imersos em nossas preocupações mais elementares, a vida segue lá
fora. O mundo acontece. A história não para. Em Londres agora são
quatro horas a mais, em Kiev são seis horas a mais; em Manila são
onze horas a mais. Enquanto aqui nos encontramos é possível que nas
zonas em conflito (e há tantas em nossa Terra), algum general esteja
planejando a forma mais correta de lançar um míssil para atingir um
adversário. É possível que um grupo de indivíduos, sintonizados
com os interesses mais mesquinhos e egoísticos, estejam planejando o
ataque terrorista que vai sensibilizar o mundo. E todos acreditam,
sem qualquer porção de dúvida, de que têm razões suficientes que
justificam seus atos.
Por outro lado, neste
mesmo instante, em algum lugar, dois seres, valendo-se da energia
criadora que se espalha pelo Universo se encontram nos prazerosos
atos que darão origem a mais uma vida. Pode ocorrer, também, que,
recolhidos no seu angustiante silêncio, deixem escorrer uma lágrima
ouvindo Ray Charles cantando as agruras de uma paixão que terminou
em Yesterday, dos Beatles.
E a vida segue seu
rumo. E nossos olhos estão postos aqui nas imagens que formam o
nosso dia a dia.
O que ocorre, na
verdade, é que o homem, especialmente nos dias de hoje, tende a
analisar os aspectos da existência a partir da sua experiência. E a
cultura atual privilegia a experiência física, suplantando toda e
qualquer possibilidade extrafísica aos esotéricos, aos místicos,
aos religiosos, aos loucos e alucinados de toda a ordem.
Estabeleceu-se assim,
no pós-modernismo, período em que se vive nos dias atuais, a
validação da vida tão somente pelo aspecto momentâneo. É
necessária a resposta rápida. A participação instantânea. As
comunicações são um exemplo: o smartphone é o mundo na nossa mão.
É um aparelho que serve para uma conexão instantânea com tudo o
que ocorre na Terra. É necessário participar desta rede, sob pena
de se sentir ultrapassado. Estudiosos da mente humana estão
catalogando a dependência tecnológica como a mais nova enfermidade.
Os indivíduos estão conectados 24 horas por dia. Mesmo enquanto
dormem seus smartphones permanecem ao lado da cama, atualizando-se,
pois não há tempo a perder.
Zygmund Bauman,
pensador polonês, autor de Amor Líquido, estabelece que os dias de
hoje estão decretando o fim do futuro. Os ciclos são tão rápidos
que não importa o amanhã. Importa tão somente o hoje.
Por outro lado,
sabemos que a natureza se repete através dos ciclos. A vida física
é transitória. Ela é impermanente. Ela se esgota com o fim do
corpo. Os materialistas dizem que acabou o corpo acabou tudo. As
próprias ciências estão relacionadas mais aos aspectos positivos.
A psicologia tradicional, por exemplo, leva em conta a existência
humana a partir do útero. Antes disso, nada existia. Os
espiritualistas, os esotéricos, os místicos, os pensadores e os
sensíveis entendem que há um mundo imenso além da dimensão
física. Há realidades que nossas vistas não alcançam. E, mesmo
que não acreditemos nisso, ela ainda existirá, eis que nossa
ignorância não é capaz de revogar uma lei natural.
São duas visões
absolutamente conflitantes. Um mundo percebido pelos olhos, apalpável,
mensurável e um outro, tão amplo e incontido onde, afirmam tantos,
é possível que se escondam as magias do Criador.
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