Às vezes, reclamo e resmungo
quando acesso as redes sociais. Aparece cada coisa que enche o indivíduo de
vergonha. Cidadão de bem, que aparentemente cumpre com honestidade todos os
compromissos do dia a dia, zeloso com a família, posta de vez em quando
fotinhos carinhosas com a esposa e com as filhas. Aparentemente defende os
valores mais sublimes e sagrados da existência humana. Mostra que quer um mundo
feliz, que ama de paixão tudo o que o cerca. Subitamente, porém, assume a porção
da desarmonia e aparece fazendo apologia de lideranças políticas francamente
defensoras do trato violento, da intolerância e da tortura.
E
isso tem sido a tônica nos dias de hoje. Porém, cheguei a acreditar que era um
fenômeno localizado. Coisa de internet. De linguagem virtual. Chego à
conclusão, depois de assistir ao espetáculo circense, que foi a sessão da
Câmara Federal que depôs Dilma do Governo, de que o país é assim mesmo. A
linguagem das rede sociais é a mesma em todos os lugares. Em alguns, como no
Senado e nas cortes superiores, ainda resiste (pelo menos visualmente) algum
respeito e alguma ordem.
Vacinado,
no entanto, não descarto que lá em cima não seja outro o panorama que vige. Sou
obrigado a pensar e imaginar que aqueles sérios senhores, no íntimo e relaxante
momento do cafezinho, distantes dos olhos frios das câmeras da TV Senado e da
TV Justiça, não ajam como agiram os
senhores deputados. Não tem como crer no contrário.
E
não estou falando aqui em facções: em defensores deste ou daquele grupo.
Governistas e opositores (que até uns dias atrás se confundiam no saque aos
cofres da nação) parecem rumar para o mesmo poço. E, convenhamos, por mais
otimista que seja o indivíduo, não há como prever coisa melhor num futuro
próximo. As próximas gerações viverão este pesadelo. Este escárnio, este
deboche vai continuar. É o espetáculo. É o show do momento. E o circo vai
continuar animando o povaréu. E o espetáculo é grosseiro. Os palhaços não têm
talento. Não carregam a graça, a ingenuidade e a leveza necessárias em suas
travessuras.
Ainda
bem que os olhos de Alice não foram contaminados. Não há preocupação no seu
mundo. A paz que carrega em seu rosto sereno é a paz que merecemos. Vinde a mim
as criancinhas, disseram os mestres num passado não muito distante. Jesus e
Buda tinham razões infinitas para dizer que devemos alimentar nossa visão como
se crianças fôssemos. Como adultos, em muitos momentos, somos impotentes para
continuar sonhando. Impotentes por hora. Até que o pesadelo passe. E passará.
Um dia.
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