Tinha medo de escuro. Era um menino
pequeno. Algumas vezes o medo era muito maior do que ele. Sua mãe vivia dizendo
que o escuro era só a ausência de luz. E que a falta de luz era momentânea. Não
adiantava nada. À noite, quando seguia para seu quarto, era sofrimento na
certa. Se ao escuro sobreviesse vento e chuva, então o pavor tomava conta. Se um raio inventasse de rasgar o céu e se
dirigir perigosamente em direção ao chão, o pavor tomava conta do serzinho. O
cobertor se movimentava em direção à cabeça. O coração saía do lugar e tentava
passar pela sua boca pequena. Faltava ar embaixo das cobertas. Depois de uma luta enorme, o cansaço vencia o
medo. Lentamente, chuva, vento, trovões e raios iam ficando para trás. Os olhos
fechavam e se entregavam à falta de luz.
23/08/2017
17/08/2017
Sou Nazista Sim
"Na realidade, o que os manifestantes fizeram foi assumir publicamente aquilo que todos bem sabem: há seres que se consideram superiores aos outros e lutam para sufocar os demais. O nome disso é ignorância".
Os dias passam e a humanidade
aparentemente vai se distanciando dos seus atavismos primitivos. Aparentemente,
disse eu. Não apostemos muito na mudança. Ela vem, mas muito lentamente.
Podemos apostar isso sim, que há sentimentos escondidos esperando o momento
oportuno para serem revelados. Assim, o que parece superado, que parece
adormecido em algum canto, bem que pode ser revivido quando meia dúzia de
inconsequentes fanfarrões se une para defender uma bandeira.
Recentemente, nos
EUA, realizou-se uma passeata para ressaltar a primazia da raça branca. A
façanha, batizada de Sou Nazista Sim,
juntou homens, mulheres e crianças que unidos marcharam gritando palavras de
ordem contra gays, negros, judeus e imigrantes. Por trás de tudo isso o desejo
de fortalecer o discurso de direita.
Na realidade,
o que os manifestantes fizeram foi assumir publicamente aquilo que todos bem
sabem: há seres que se consideram superiores aos outros e lutam para sufocar os
demais. O nome disso é ignorância.
11/08/2017
Os Ratos e a Revisão
Quem trabalha com impressos sabe
muito bem: é necessário revisar, revisar e revisar, sempre. Mesmo assim,
revisado, revisado e revisado, o produto final pode surpreender o leitor mais
atento. Jornais e revistas já foram às bancas com erros constrangedores nas
capas, contracapas e matérias especiais. É da vida. Há alguns erros que se
tornam clássicos como o de um jornal do interior do Paraná que publicou uma
manchete tentando acalmar a população local que passava por num momento de
grande preocupação com surtos de gripe: “Gerente da Saúde garante que não vai
faltar vagina”. Imagino uma corrida às bancas para garantir o curioso exemplar.
07/08/2017
Os Leões
A história seria diferente se
quem a contasse fossem os leões e não os caçadores de leões, diz um sábio
ditado africano. Se os escravos africanos, capturados em suas tribos e levados
à força mundo afora para construir riquezas, fossem os historiadores de seu
tempo, certamente os livros seriam romances recheados de cenas de terror, de
dor e de medo, tal a agressividade reinante nesta relação entre os
colonizadores e os bichos-homens da África. Os negros africanos, segundo
religiosos europeus e boa parte da elite pensante, eram animais brutos. Não
tinham alma. Assim, a escravidão era uma benção, pois colocava a fera em
contato com a cultura de homens civilizados, sábios, conhecedores da vida, da
justiça e tementes a Deus.
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