Minha mãe fazia pão de forno. O
cheiro exalado pelo lento processo aumentava sobremaneira a vontade de
consumi-lo. Era uma verdadeira tortura.
Parecia que o processo demorava a tarde inteira. Não era bem assim. Mas, na
verdade, alguns dias ela aumentava ainda mais o tempo de espera. Quando eles
estavam no ponto, recém-retirados do forno, quentinhos ainda, uma fina fumaça
que se dirigia até o teto e um cheiro que tomava conta da pequena casa, vinha
ela com uma sentença negativa e definitiva: “não se come pão quente porque dá
dor de barriga!”. Desânimo completo. A fome aumentava ainda mais. O valor de
uma fatia daquele pão ia às nuvens. Aos nossos olhos, aquilo tudo valia ouro.
Na
hora em que ela amolecia o coração e partia o pão em fatias, dando a cada um o
seu quinhão, mudava a preocupação. “Não
pode comer muito porque empanturra!”. Comíamos
o que dava. Ou melhor, o que ela dava porque a quantidade era definida por ela.
Jamais tivemos nosso estômago dilatado por pão quente, outra preocupação da
zelosa mãe.
É
certo que alimento demais não faz bem à saúde. Muito pouco também não. O ideal é o equilíbrio que
vai proporcionar a harmonia.
Lembrei-me
disso, depois de uma semana de empanturramento de informações. Iniciou lá na
mais alta Corte, no meio da semana. A cobertura midiática foi tão intensa que
HC virou conversa de boteco. De uma hora para a outra, milhões de seres, muitos
deles ainda muito carentes na junção das letrinhas, tornaram-se experts na
intrincada fórmula de resolver questões complexas que são o pão de cada dia dos
ministros da Corte.
Depois,
a mídia esportiva regional e do centro do país, gastou horas e mais horas
discutindo se o treinador do Grêmio, iria deixar a província pra se aventurar
nas areias de Copacabana e, nas horas vagas, treinar o Mengão. Domingo, ainda
bem, a novela terminou. Foi o Dia do Fico.
Antes
disso, porém, a tevê pode comemorar a prisão do ex-presidente. Muita gente
desligou a tevê diante da cobertura excessiva. Era novela que parava no meio,
noticiaristas com indisfarçável satisfação, repórteres apressados (vez por
outra levando indesejáveis e desrespeitosos safanões de manifestantes). Foi
farto o prato. Tá certo que era pão quente. Era inevitável. Mas, tudo o que é
demais, acaba enfarando.
Comi
pão quente feito pela minha mãe e não tive dor de barriga. Muito menos
empanturrei. Nem ao menos tive o estômago dilatado. Agora, cobertura midiática
excessiva, essa não me pega. Faz anos. Leio um ou dois sites de notícias e tá
bom. Chega! Em excesso até água faz mal.
A
alta Corte vai decidir outros HCs e ADINs, nesta semana. E aí, quem concorda? E
se não concorda explique-se. O mundo quer saber.
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