24/08/2018

Os Velhos Jornais

Os textos hoje são pequenos. Dizem que ninguém tem muito tempo para gastar com leitura. Se o tema é complexo, então, o poder de síntese tem que, obrigatoriamente, imperar. Como se lê mais no computador e no celular, quanto menor melhor. Com isso, vive-se o tempo das ideias rasas, da conclusão a partir da manchete, da falta de detalhes. Objetividade é a norma.
Às vezes, opto por contrariar solenemente esta regra dos novos tempos. Se houvesse alguma pesquisa juro que gostaria de saber o resultado. Quantos leitores desistem de continuar lendo após o segundo parágrafo?
Na feira, no mercado, na loja ou na caminhada pela cidade, vez por outra encontro alguém que, sem grandes papos, de forma direta e objetiva como tudo tende a ser, informa que tem lido com frequência a coluna que publico com regularidade aqui no jornal. Sempre brinco, em pensamento, é claro, “alguém lê!”.
Os primeiros impressos que li, fora as famigeradas cartilhas escolares com seus desenhos primários e suas lições repetitivas, foram exemplares do Correio do Povo, o antigo, em formato standart. Suas fotos eram enormes e os textos da mesma forma. Ainda guardo na memória aquelas matérias grandiosas com imagens impressionantes de jogadores do Grêmio e do Inter disputando a rodada do final de semana. Havia impensáveis fotos de mais de um palmo e meio ou dois. Eram gigantes gremistas e colorados quase saindo da página do jornal.
O mais impressionante era a forma como estes exemplares chegavam até os meus olhos. Eram jornais velhos de dias e dias atrás, semanas ou talvez até meses. Em regra, eram usados no armazém, na venda, como forma de embalar o aipim ou a batata doce. Como estes tubérculos normalmente vêm sujos de terra preta ou vermelha, antes de ler e apreciar as “novidades” futebolísticas, havia um exercício de limpeza a ser feito: passava a mão levemente sobre a sujeira para não entranhar no jornal e prejudicar a compreensão da notícia ou da fotografia. Era um santo remédio. Uma ação simples. Sujava a mão, mas limpava o periódico.
Os jornais encolheram. As imagens são minúsculas. Os textos também. Muitas redações fecharam. Viraram sites de notícias. Caminham para a extinção, anunciam os que já chegaram no futuro. Se o seu Zé de antigamente ainda tivesse o armazém haveria de encontrar outra forma para empacotar os aipins e a batata doce.
Pesquisas – As pequisas eleitorais que vêm sendo publicadas não surpreendem, pelo menos neste momento. Lula, que é um candidato não-candidato, venceria todos os demais. Como não vai concorrer, ao sair do páreo é que se terá uma real noção do panorama político que se estabelecerá na nação. Uma guinada a uma visão repressora e fanfarrona, uma volta aos anos 90 com a social-democracia de FHC ou a consagração do poder de Lula, através de seu pupilo Haddad? Uma reviravolta com Marina ou Ciro? Como não vejo o futuro, sou incapaz de apostar um exemplar de jornal velho para que lado a população vai pender. Essa é uma daquelas questões que só o tempo vai responder. Aguardemos, então, o desenrolar de mais um emocionante capítulo da história desta jovem e não muito forte democracia pátria.

19/08/2018

A viagem no tempo

 
"Mas, há quem consiga viajar para o futuro sem máquinas. Nem chegam a desafiar as leis da física, pois, na verdade, seus corpos não saem do lugar em que estão. São os videntes. Enxergam o futuro. Ao menos assim dizem. Virou moda".

 A viagem no tempo é um sonho antigo dos seres humanos. Apesar de ser algo impossível nos dias atuais, a ficção científica há muito realiza este exercício. Segundo consta, desde os anos 30 do século passado já haviam películas propondo uma viagem acidental ou planejada para o passado ou para o futuro. Porém, dos anos 60 em diante é que este assunto parecer ter ganhado muita força. A Máquina do Tempo, baseado no livro de W. G. Wells, foi o primeiro filme a apresentar um humano usando um dirigível para viajar para um período previamente estabelecido. Antes disso, era o acaso que levava os seres até a quarta dimensão.

07/08/2018

A necessidade do controle


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"O universo vasto, desconhecido e imensurável não combina com a necessidade que se tem de ter sempre razão, de impor a opinião num debate ou prever a ira de Deus contra esse ou aquele".


Os comentários nos sites da internet talvez revelem, de maneira mais cristalina, a disparidade de pensamento das pessoas. Ali é possível, por exemplo, entre xingamentos e zoações, navegar de zero a cem, do céu à terra em termos de opiniões e posturas existenciais. Claro que nem sempre se tem paciência para dar uma averiguada em como a tigrada está pensando sobre os grandes temas de humanidade.
Creio que não é de hoje: arrisco até afirmar que o homem sempre agiu deste jeito, tentando demonstrar uma certeza, tentando mostrar que ele tem razão. Na religião isto é muito claro. Os europeus sempre acharam muito estranho que outros povos, como os africanos e americanos, tivessem seus próprios totens, homenageassem seus ícones e não seguissem o caminho que parecia ser o certo, o da salvação.

05/08/2018

O progresso e o retrocesso

"O mundo cresce em tecnologia. As coisas ficam mais fáceis. Mas, o homem continua sendo o que sempre foi: um ser em constante construção. Um ser inacabado que conhece muito sobre muita coisa e pouco sobre si mesmo. O mundo tecnológico, com suas facilidades, torna-se facilmente um mundo de distração".


As últimas décadas foram pródigas em avanços tecnológicos. Nada disso foi por acaso. A corrida espacial levou ao desenvolvimento dos satélites. Os satélites, por sua vez, levaram a um melhoramento inimaginável nas comunicações. Com isso, os telefones saíram da sala e viraram item obrigatório nas mãos do pobre, do remediado e do rico. Nem artigo de luxo é. É de primeira necessidade. Telefone é tudo junto reunido: rádio, tevê, cinema. E muito mais do que isso.
Não faz muito, uma ligação telefônica era uma coleção de chiados. No meio disso, vez por outra ouvia-se alguma mensagem válida. Uma rede que iniciava numa mesa e seguida por cabos e fios levava as mensagens de um lado a outro. Hoje o telefone o que menos leva é a voz. Transporta imagens, músicas, traça rotas para turistas, reserva bilhetes para o cinema e mesa no restaurante, com direito a escolha de cardápio e forma de pagamento. Atualiza o gol do time, o capítulo da novela e as notícias que interessam a alguns, as curiosidades do falso mundo das celebridades e as novidades de um mundo frenético que não tem tempo para descanso nem um mínimo segundo. Enfim, um só aparelho é capaz de colocar o mundo todo na mão de uma pessoa com tudo o que há de bom e de ruim.
Tudo isso era impensável para o humano comum. Só os autores de ficção científica poderiam prever mudanças significativas como estas.
O mundo ficou pequeno. Porém, com tudo isso, o homem não se tornou maior. O homem é o mesmo de antes. Com uma diferença básica: conta com um meio mais eficiente e rápido para suas práticas. Os avanços das comunicações que possibilitam a realização de cirurgias delicadas com grande grau de precisão, também facilitaram os exércitos de fanáticos que explodem aqui e ali, gerando pânico, incerteza e medo em vários pontos do planeta. Ou seja, o homem é capaz de usar seus avanços tecnológicos tanto para facilitar a vida como para criar tantas outras dificuldades aos seus semelhantes.
Creio que essa é uma das principais características humanas: dar largos passos à frente e, depois de um tempo, voltar alguns passos atrás. Felizmente, os passos atrás são menores e o que fica é o progresso que se impôs. É uma impressão pessoal. Acredito que muitos pensam muito diferente. Afinal, há os totalmente otimistas que enxergam insistentemente o lado bom das coisas. Há os pessimistas que lamentam o dia do aniversário porque ele representa menos tempo de vida. Há os realistas que acham que nem tanto o otimismo nem tanto o pessimismo, mas sim o que deve ser focado é o real que se revela diante dos olhos da maioria das pessoas. Há outras formas de pensamentos que seria impossível nestas poucas linhas nominar as correntes e as ideias que se defendem consciente ou inconscientemente.
Uma coisa é certa. O mundo cresce em tecnologia. As coisas ficam mais fáceis. Mas, o homem continua sendo o que sempre foi: um ser em constante construção. Um ser inacabado que conhece muito sobre muita coisa e pouco sobre si mesmo. O mundo tecnológico, com suas facilidades, torna-se facilmente um mundo de distração. Há muita coisa para se fazer. Há muito conhecimento no ar. Tudo está disponível. O homem, porém, para conhecer a si mesmo nem precisa de tanto. O mergulho interno dispensa tecnologia. É primitivo, arcaico, simples, rústico. Talvez por isso não desperte tanta atenção assim.

O Medo

Minha mãe não contava histórias de boi da cara preta nem de bicho papão. A vida era dura e ela não tinha tempo para isso. Os tempos eram outros como são sempre outros os tempos que se vão. O mundo era mais simples. Vivia-se com menos. Muito menos do que se tem hoje. Na verdade, vivia-se como dava.
No caso dela, mulher, pobre, cheia de filhos, a vida nunca foi um conto de fadas, da Cinderela ou da princesa. Sempre havia coisas mais importantes a fazer: uma roupa para lavar, um pão no forno assando, uma casa para varrer, alguns filhos para cuidar, buscar água no poço, juntar lenha para o fogão. Assim, não sobrava tempo para ensinar a filharada a ter medo. Além disso, era econômica nas palavras. Não era de muitos rodeios. Porém, quando falava acertava o alvo.