O
casamento
entre
política e religião não é coisa nova. Os povos antigos, muitas
vezes, se organizavam politicamente e buscavam uma validação
divina. Era necessário que o soberano tivesse a chancela da
autoridade religiosa. Mal comparando, seria como se os deuses
desejassem este ou aquele soberano no trono.
Na
Idade Média, então, a igreja romana ditava as regras. Os conceitos
de pecado foram ampliados de tal forma que qualquer oposição ao
soberano era uma agressão à autoridade religiosa e ao próprio
Criador. A pluralidade era uma ofensa. A crença era tutelada. Só
quem seguisse o pensamento do clero tinha alguma chance de continuar
vivendo.
Nos
dias de hoje, apesar do amplo espectro de crenças e descrenças, o
pensamento religioso influencia na vida em sociedade. Conceitos bem
definidos de certo e errado, de admissível e não admissível, de
permitido e de proibido à luz da religiosidade determinam padrões
de comportamento. Assim, as liberdades individuais, especialmente
quando relacionadas à orientação sexual, sofrem cerceamento
rotundo ou silencioso. No pensamento de muitos, Deus se ofende quando
o indivíduo não segue o protocolo previamente determinado.
De
certo modo, nos períodos eleitorais este processo sofre um
impulsionamento. Por trás disso está o discurso de defesa da
família e dos bons costumes. Outra estratégia comumente usada é a
frequência de candidatos nos cultos religiosos. Numa aliança com
igrejas e pastores, candidatos são recebidos com glórias e aleluias
num comício disfarçado de culto. Dia desses um ministro das altas
cortes alertava para a necessidade de fiscalizar um pouco mais este
uso da fé, do ambiente “sacro” e do poder dos pastores para
conduzir as ovelhas para as garras deste ou daquele candidato.
A
estratégia, por vezes, gera algumas situações surreais. Há um
candidato, por sinal muito bem contado nas pesquisas, que
debochadamente ensina crianças a fazer um sinal de arma com os
dedos. É defensor do uso da tortura, do extermínio dos “homens
que não são de bem”, debocha da opção sexual das pessoas,
desvaloriza a mulher entre outras peripécias. Pois bem, dia desses,
esse indivíduo, posava ao lado de pastores. Dizia que representava
os homens de Deus. Credo, livrai-me do mal!
Não
é necessário encostar os joelhos no chão semanalmente, nem jogar
os braços para cima gritando aleluia para se saber que o grande
mestre religioso do Ocidente, Jesus de Nazaré, construiu ao longo da
sua pregação uma doutrina de aceitação, de compreensão, de
perdão para aqueles que não seguem o caminho da perfeição. Não
há no discurso de Jesus nenhuma expressão como “bandido bom é
bandido morto” ou alguma recomendação para que a violência seja
combatida com o uso de armas. Pelo contrário. Muito pelo contrário.
Apesar
de ser um estado laico, sem uma orientação religiosa oficial, é
flagrante o uso da religião no ambiente político. Na busca do poder
cada um usa o que tem. E os líderes religiosos têm uma massa que os
ouve com regularidade. Na hora do voto não é certo que o eleitor
vai votar naquele candidato que sua igreja indicou. Ele tem
liberdade. Toda a liberdade.
Mas,
Deus está vendo!