Uma das
desculpas mais frequentes está sendo levada à lona. A falta de
tempo tem justificado, nos últimos tempos, a mudança significativa
no modo de vida das pessoas. Corre-se daqui para lá e de lá para cá
num ritmo frequentemente frenético, sem sossego. Assim, valorizam-se
as atividades mais lucrativas e mais significativas. Jogar-se na rede
por uns minutos, assistir a um filmezinho infantil com o filho,
compartilhar e interagir com os familiares pequenos momentos
tornou-se supérfluo. Afinal, falta tempo. O trabalho consome, os
contatos consomem, os compromissos mais importantes consomem o tempo.
Talvez
um dos mais significativos pontos do isolamento social a que fomos
submetidos nos dias de hoje, determinado por uma partícula mínima,
esteja relacionado à devolução do tempo aos indivíduos. Impedidos
de transitar livremente pelas ruas, de fazer o que o dia a dia
clamava, fomos todos empurrados para dentro de casa. Não há
escapatória. Ou isso ou a irresponsabilidade de colocar a saúde de
nossos queridos e queridas em risco ou, ainda pior, contribuir para
que o quadro de risco se alastre e outros sejam atingidos pelo nosso
ímpeto egoísta.
Claro,
nem todos estão seguros. Há milhares de profissionais de saúde, de
segurança, da limpeza pública, dos serviços essenciais expondo sua
saúde e de familiares em nome do bem comum.
Para
aqueles que escondiam-se atrás da carência de tempo o problema
virou outro. Há tempo para tudo. Não como se gostaria, não da
forma desejada. Mas, de algum modo há tempo. A mudança ocorreu da
noite para o dia. Talvez aí esteja uma situação que ainda
proporciona algum desconforto. Chamada de onda alarmista por alguns,
sabe-se agora que é altamente necessária esta abstinência das
ações cotidianas. O hábito forçosamente mudou. Resta adaptar-se e
valer-se deste novo tempo.
Opções
para usar este tempo multiplicaram-se. A comunicação instantânea
realmente está mostrando a sua face mais útil. As famílias, mesmo
que por chat, por reunião virtual ou por mero recado no grupo,
ganhou mais peso. As visitas tornaram-se mais frequentes. A
preocupação com a saúde daquele familiar que não se via há
tempos vem sendo demonstrada mesmo que por mensagem. Já é alguma
coisa. Nos tempos da falta de tempo nem isso vinha sendo mais
possível.
Tudo
isso vai passar. Surgirão novas realidades, novos desafios e novas
posturas. Se as coisas melhorarão significativamente não há como
precisar. Talvez muitos voltem à rotina como se nada tivesse
acontecido. Outros, porém, bem que poderão chegar à conclusão
que, na realidade, o problema nunca foi a falta de tempo. Nunca houve
falta de tempo para os filhos, para a família, para as pequenas
coisas. Tudo sempre esteve relacionado às escolhas que cada um vinha
fazendo.
Mesmo
não gostando de frases feitas, talvez uma delas, antiga, surrada,
repetida impensadamente, se aplique aos movimentos futuros. Não
sabemos onde isso tudo vai dar: “só o tempo dirá”.
Ah o tempo, esse professor paciente.
ResponderExcluirProfessor, como tantos, nem sempre ouvido.
Excluir