A caverna - Eis que voltamos à caverna. Fazia muito tempo que havíamos saído de lá. Escondidos permanecemos durante muito tempo. Havia feras do lado de fora. Nada melhor do que o aconchego de um lugarzinho seguro para afastar o medo e garantir a existência. Porém, nem todos preferem a segurança. Há aqueles que optam pela aventura. Claro, alguns saindo da caverna perderam a cabeça, literalmente.
Se, às vezes, o sentimento de privação de liberdade, imposto pelo isolamento social, toma conta do indivíduo levando ao tédio e mesmo à ansiedade, não dá para negar que as condições hoje são imensamente mais favoráveis do que as do tempo dos nossos antepassados. É sabido que na caverna havia muito pouco para se fazer. Manter o fogo aceso, batalhar para conquistar um estoque mínimo de água e alimento, furtivamente conseguido pelos mais corajosos e, no mais, era manter-se atento e próximo aos demais. Talvez um ou outro jogo de luta tenha sido ensaiado, afinal havia muita força e pouco requinte.
Caverna luxuosa- Não há comparação entre as cavernas. A antiga servia mal e mal para assegurar a vida humana, ameaçada por feras enormes. As de hoje, porém, são bem mais providas. Por mais simples que seja sempre há algum sinal de conforto. Uma tevê, uma conexão de internet, alguns celulares e um mundo para ser acessado. As sombras que nossos antepassados viam do lado de fora e que, segundo o filósofo formava a realidade alcançada por aqueles olhos, hoje são virtuais. Claro, há muito de fantasia, de falsidade e de manipulação no mundo de hoje. Mas, de algum modo pode-se presumir que esta tendência acompanha o homem desde sempre. Não seria agora que iria desaparecer. Ao menos há a Netflix. E há séries e mais séries a serem maratonadas. O que seria deste período de isolamento sem esta opção?
Stress- O humano atual vinha construindo uma vida fora de casa. As jornadas de trabalho tomavam conta de quase todo o tempo. Chegar em casa no final do dia ou início da noite marcava o fim do período útil. Com isso, a vida dentro de casa foi sendo resumida ao longo dos tempos. O isolamento imposto pelas autoridades sanitárias, com base em argumentos científicos, de algum modo inverteu a tendência. Agora ir para a rua só em casos de necessidade. Plantonistas, trabalhadores da saúde e dos serviços essenciais têm as ruas como suas. O ideal é permanecer em casa. É mais seguro. Para quem tinha na rua sua válvula de escape a coisa piorou. As questões mascaradas de longa data tendem a passar por uma prova. As relações familiares, afetivas, desgastadas vão sendo analisadas, no mais das vezes, compulsoriamente. Mudanças virão de muitos quadrantes.
Outro mundo- Cientistas, filósofos, holísticos de toda a ordem concordam que o mundo mudou. Com isso, as relações vão mudar. Não só as relações familiares e afetivas, mas as ligadas ao trabalho, à política, à ciência, à mídia, ao consumo, ao sistema financeiro entre outras. O biólogo brasileiro Atila Lamarino, doutor em microbiologia, até então um ilustre desconhecido, virou celebridade. Isto porque, é um grande especialista em vírus e bactérias. Diz ele que “após o coronavírus o mundo não voltará a ser o que era”. Na contramão da história crescem os números de compartilhamentos nas redes sociais de um meme pedindo o ano de 2019 de volta.
Há, ainda, aqueles que resistem, que acreditam que tudo isso é uma balela política que tem como objetivo derrubar o presidente. Vivem sonhos antigos desfeitos por uma partícula mínima inteligente, um vírus, que conhece as regras da natureza e vai se metamorfoseando para tirar o máximo proveito do hospedeiro. Em muitos pronunciamentos na tevê e mesmo nas ações deliberadas de rebeldia carregada de irresponsabilidade, o mandatário do país age como porta-voz e emissário do vírus. Ele agradece.
Pois com tudo isso há quem não percebe a oportunidade de mudança, para melhor, apesar dos sofrimentos. Aproveite quem puder.
ResponderExcluirAproveitar a oportunidade é preciso, mestre Marcelo.
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