08/04/2020

A comunicação em tempos de pandemia

Os canais de comunicação instantânea, quando usados maliciosamente, têm o poder de disseminar a falsidade. Mesmo em casos sérios como esta pandemia que atinge todo o planeta, sempre aparece gente disposta ou invigilante espalhando coisas e mais coisas que mais atrapalham do que contribuem. Desta forma, ferramentas como Facebook e WhatsApp que ligam as pessoas facilitando a comunicação, tornam-se armas nas mãos imprudentes de mentes pequenas. 

Os arroubos de irresponsabilidade dos que carecem de lucidez, muitos deles alojados em altos cargos de governos, encontram uma terra propícia nas redes sociais e se espalham como ramas de batata doce. Assim, surgem ideias insanas e insensatas que contrariam todos os protocolos cuidadosamente estabelecidos por técnicos e cientistas que se dedicaram décadas estudando os casos no mundo prático. No nosso caso, no Brasil, a preocupação virou política. Não deixem o presidente só. Mesmo que ele esteja mostrando certa insanidade, em alguns momentos.  O exército miliciano entende o recado e replica as postagens dos filhos do homem e de seus robôs amestrados com a pressa de um vírus que sai da China e atravessa o mundo de avião, chegando silenciosamente nas pequenas e grandes cidades, nas favelas e nos recantos mais distantes.
Nesta levada, por aqui, até as escolas de samba que incluíram divindades em seus desfiles de Carnaval foram “culpados” por espalhar o vírus no planeta. Creem na ira divina. Acham que a divindade está preocupada com as interpretações errôneas ou distorcidas que algum humano possa ter. Mas, enfim, fé é fé. Sempre há quem creia. E se alguém crê é porque aquilo apresenta algum sentido. Então, “bora” espalhar absurdos porque sempre haverá alguém disposto a compartilhar.
Certo é que este panorama atual, de paralisia perante uma pandemia causada por um vírus, é algo inusitado para toda uma geração. Afinal, as últimas comoções foram duas grandes guerras mundiais, acompanhados de pandemias de gripes. A guerra hoje não é localizada. O inimigo é invisível. Não conta com armas tradicionais. Nem tanques nem aviões. O vírus, uma criatura de tamanho diminuto, agigantou-se e tornou-se mais letal que aviões atulhados de bombas e metralhadoras, morteiros e armas guiadas por computadores.
O ritmo frenético destes tempos, ao menos para os governos precavidos e lúcidos, foi substituído por um isolamento social. Não sair de casa para não encontrar o bichinho que viaja por aí nos espirros, nas tosses e mesmo em superfícies materiais. Disfarçado e silencioso como só um vírus desconhecido pode ser, vai correndo mais rápido que os laboratórios na procura de vacina e, assim, vai fazendo vítimas e espalhando algum medo, alguma apreensão e algum pavor a quem está predisposto. Diante de tudo isso, é interessante que se mantenha algum cuidado e alguma sensatez.
Aliás, nesta guerra toda entre bravatas de governantes e momentos de lucidez, ganha pontos a recomendação científica. Melhor seguir os padrões recomendados pela Organização Mundial de Saúde do que a daquele empresário que está mais de olho no seu negócio do que na saúde e na sobrevivência dos indivíduos ou daquele político que olha preocupado para o calendário eleitoral. A mídia tradicional, que estava apagadinha, quase neutralizada pela rapidez das fake news, também cresceu na tabela. Afinal, depois de tanta falsidade, é quase certo que aquelas postagens divulgadas no grupo da família pelos tios mais velhos, ardorosos fãs do capitão, e por aquela tia invigilante e de pouca intimidade com fontes, pesquisas e checagens, a mídia de jornal, rádio e tevê cresceu na parada. Ah, tirando as manifestações apaixonadas marcadas pela ideologia política, as redes comprometidas em informar com alguma precisão recuperaram um espaço perdido ao longo dos últimos anos.
O planeta está em câmera lenta. Dizem os sábios que era preciso ser assim. Afinal, a normalidade que vinha se estabelecendo há muito não contribuía para o desenvolvimento total do ser humano. É bom crer nisso. Afinal, algo de bom deve nascer disto tudo. Clima para esta mudança há. Resta saber se a lucidez vai se impor ou se continuaremos vivendo na mesma balada de meses atrás.       

Nenhum comentário:

Postar um comentário