Nosso
cérebro é mesmo algo fabuloso. É o nosso poderoso arquivo. Está
fechado hermeticamente dentro de nosso crânio. Classifica e guarda
em compartimentos bem definidos desde as funções mais básicas,
como respirar, caminhar e mastigar, até coisas mais complexas como
guardar todas as senhas que fazem parte da nossa vida. Banco, cartão
de crédito, internet, conta de e-mail, Facebook etc. Ou, ainda,
para alguns, definir o ponto exato de cozimento do miojo.
Ao
longo do tempo, o grande desafio foi sempre exercitá-lo para retirar
daí algo novo, ampliando o conhecimento existente. A representação
das coisas pelos números foi um dos primeiros progressos. O
aparecimento da escrita, obra de algum cérebro realmente pensante
foi outro. Claro que as coisas não aconteceram assim, do dia para a
noite. Primeiro o escambo, a troca. Depois a indexação de produtos
a um só fator. Até que alguém teve a ideia de unir tudo isso.
Juntando todos os fatores, depois de muito exercício cerebral, surge
a moeda. É um processo de construção, lento e gradual. Tanto que
as primeiras manifestações escritas, na realidade, versavam sobre
bisões, servos e pequenos homens com suas lanças. Narravam as
aventuras e desventuras de homens enfrentando os desafios da
natureza.
Alguns
dos grandes cérebros que aqui habitaram lutaram de maneira brava
para nos convencer de suas conclusões. “O universo é uma harmonia
de contrários”, disse Pitágoras. “Sábio é aquele que conhece
os limites da própria ignorância”, afirmou Sócrates (imagem
acima).
“Penso, logo existo”, concluiu Renê Descartes. Mas, estranheza
mesmo causou o polonês Copérnico, no Século XVI, quando afirmou
que não era a Terra, mas sim o Sol o centro do sistema. Até então
se acreditava que a Terra era o centro de tudo. A teoria de Copérnico
foi banida, proibida pela igreja, a então detentora do conhecimento.
Um
século depois, quando o matemático italiano Galileu Galilei retomou
os pressupostos de Copérnico, a luta, até então adormecida,
reiniciou. Foi inquirido pelo Santo Ofício, foi ameaçado de
punição, condenado e preso em um castelo. Com o tempo foi
beneficiado pela progressão de regime, cumprindo a pena em prisão
domiciliar. Nos últimos anos de sua vida, já cego, retomou aos
estudos que havia iniciado na juventude. Concebeu alguns princípios
da física, ligados ao movimento e ao estado da matéria, que
influenciaram cientistas como Isaac Newton e outros.
Claro
que, se comparados a gente deste calibre, somos pequeninos. Apesar de
todo nosso esforço diário, do exercício cerebral que porventura
fizermos nossas conclusões não são, pelo menos até o presente
momento, tão importantes para a humanidade. Não modificamos os
conceitos já estabelecidos, não imprimimos grandes alterações no
modus vivendi. Talvez sigamos assim, ao longo da nossa existência
combatendo nossa ignorância, a conta gotas.
Um
ponto positivo já alcançamos. Estamos cientes de nossos limites e
da nossa própria ignorância. E, fazendo justiça a Sócrates,
talvez estejamos trabalhando para um dia sermos sábios. Não como os
que imprimem grandes mudanças ao mundo, mas sim aqueles que
simploriamente vão se modificando, aparando suas asperezas,
lapidando seu caráter, lenta e gradualmente, como os movimentos
imperceptíveis da Terra. Como componentes do grande universo, ativos
e capazes, sabemos que as pequenas alterações, mesmo que ínfimas,
repercutem de algum modo no todo.
Não
é um desejo, nem um delírio. É uma teoria. Apenas uma teoria e
nada mais.
Pois é dos pequenos exercícios que surgem as grandes conquistas. Compactuo de sua teoria, já dizendo de antemão, baseado em fatos reais, que é um fato.
ResponderExcluirE parabéns pelo aniversário da crônica.
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