07/05/2010

Shazan, Xerife e Cia.

Dia desses encontrei um querido amigo. Parceiro de futebol no campinho da dona Guria, de grandes contendas no campo dos bombeiros, da bola rolando contra o time da Banheira. Dos desenhos animados à tarde, na tevê ainda em preto e branco. Shazan, Xerife e Cia (foto), Moby Dick, As aventuras de Gulliver, Garibaldo, Caco e Sônia Braga - ainda muito jovem-, na Vila Sésamo.
A lembrança das coisas boas que fizemos e vivemos é sempre revigorante. O clima, a ingenuidade, o acerto e o erro, tudo em uma época em que, mesmo sem recursos, sem tecnologia, a vida era, pelo menos para nós, muito saudável. Neste inventário, passamos por aqueles que não nos acompanharam. Buscaram aventuras outras e perderam-se. Um ou outro amigo vencido pelo vício, álcool, canabis ou por coisas mais fortes. Ou, ainda, aquele que ficou no trânsito.
Fui afastado do quadro das memórias, quando ouvi um “no nosso tempo...”. Confesso, sou acometido por certo desconforto quando ouço esta expressão. Talvez tema assumir a propriedade de um tempo passado e, com isso, desqualificar a vida presente. Alguém poderá até achar que é dificuldade em conviver com a passagem do tempo. Mas não é.
Podemos e devemos rememorar. Lembrar das coisas positivas, negativas, das ações, das omissões, dos encontros e desencontros da vida. No entanto, me nego a aprisionar o tempo, a retê-lo como algo meu. O tempo subsiste. Não vamos contê-lo, não vamos amarrá-lo, nem impedir seu avanço. É claro que ele, o tempo, se desenvolve no ritmo de cada um de nós. Os mais vivazes, com velocidade; os mais tranquilos com maior parcimônia. Em São Paulo, em Nova Iorque, em Londres, em Salgueiro, região do sertão pernambucano, em Osório, no Litoral Norte do Rio Grande, a percepção é totalmente diferente.
As preocupações, no entanto, parecem coincidir. O consumo exagerado de drogas lícitas ou ilícitas entre jovens é, hoje, uma das principais. Mesmo aqui, em nossa pacata cidade, se vê o drama deste quadro. É um surto, uma enxurrada, uma verdadeira epidemia. Parece que todos nós fomos surpreendidos, não nos demos conta do avanço silencioso e doloroso de uma das drogas mais letais que se conhece, o crack, que vem fazendo vítimas em todas as camadas sociais.
Creio que esta situação e outras tantas que não dominamos, que não sabemos lidar, são as responsáveis pela imersão de alguns de nós no “nosso tempo”. O passado já é conhecido, sabemos o que vem de lá. O nosso futuro, nosso e da humanidade é, ainda, um roteiro em construção. Seguros estamos sobre aquilo que já vivemos.
Faz sentido, sob esta ótica, o que ouvi dizer o Mestre Jaime, artesão e bonequeiro, que muito alegra o Carnaval de Olinda, na televisão, ao analisar a passagem do tempo em sua terra: “o passado era um tempo de tranquilidade”. Quem sabe?!

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