O impacto causado pelas novas tecnologias na nossa vida é imperceptível, de imediato. Para atingir esta consciência sempre é necessário que voltemos no tempo e analisemos como a vida era diferente há alguns dias atrás, sem a existência do aparelho tecnológico em questão.
Não faz muito tempo, Osório tinha meia dúzia de telefones residenciais. Atrás destes aparelhos havia uma central telefônica e uma competente telefonista que interligava os comunicantes colocando os plugs nos devidos ramais. A telefonista, se desejasse, seria a pessoa mais bem informada da cidade, pois tinha a possibilidade de ouvir tudo o que era comunicado pelo telefone.
A interatividade nos meios de comunicação era quase zero. Ouvinte se manifestava através de recados, cartinhas, deixados numa urna, ou, ainda, ao vivo no estúdio. Osvaldo Aguiar, na Rádio Osório, lutava para colocar no ar os pedidos musicais do ouvinte, sempre pelo telefone. Nos corredores da rádio havia o temor de que o ouvinte não soubesse se comunicar e falasse algo impróprio.
No início dos anos 80, o sistema de comunicação sofreu uma grande alteração. Ainda assim o telefone era um produto para poucos, tanto que a posse de uma linha era declarada no imposto de renda, pois era um bem de valor.
Na Copa de 90, na Itália, a grande novidade não foram propostas de alterações táticas, posicionamentos de equipes ou alguma jogada inovadora. A tecnologia da telefonia celular foi o grande diferencial. As rádios se valiam dos celulares pela primeira vez nas transmissões esportivas. Mais alguns anos e os tijolões começaram a aparecer no Brasil. Os celulares eram enormes e pesados. Carregados na cintura, tinham o tamanho de um revólver. O ato de tirá-lo da cintura, esticar a antena e falar em público era de uma elegância quase ultrajante para os “descelularizados” de então.
Os celulares se integraram de maneira tão visceral, que hoje praticamente em toda a casa, por mais simples que seja, por menor que seja a renda familiar, sempre haverá alguém com um aparelho. Por vezes não é um aparelho de última geração, cheio de inovações, de tecnologias de ponta. No entanto, é um telefone e serve para a sua função original: falar e ouvir.
O que nos surpreende é a sempre existente possibilidade de aperfeiçoamento, num processo incessante de geração de novas tecnologias. De tal modo que, o que hoje parece ser dispensável, pode, ali na frente, se mostrar algo tão necessário, às vezes até fundamental para o funcionamento das coisas. Vamos suprimir a tecnologia dos aparelhos celulares, da web e de outras tantas inovações das últimas décadas, e teremos, por certo, um vazio existencial muito grande, crises de identidade, depressões e outros males, especialmente entre aqueles que fazem questão de viverem conectados com o mundo, sempre, mesmo enquanto dormem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário