O uso das drogas iniciou num passado muito distante. O espírito explorador do homem primitivo, em contato permanente com a natureza, descobriu o efeito de determinadas plantas no organismo. Seus corpos ficavam leves, o espírito viajava. O homem acreditava que longe do corpo estava perto de Deus. A droga foi associada, então, à presença das divindades.
Num momento seguinte, já distante do componente religioso, as drogas passaram a ser utilizadas como medicamentos. Cocaína, heroína, maconha, entre outros, eram receitados por médicos para combater doenças. O Laboratório Bayer (se é Bayer é bom!) mantinha em seu catálogo o frasco de heroína, indicada para combater a tosse das crianças.
O Vinho Mariani, por sua vez, era feito de coca. Tinha como grande apreciador o Papa Leão XIII, que premiou o seu criador, Angelo Mariani, com uma medalha de ouro. Se a criança recém nascida era muito chorona, a indicação era ministrar algumas gotas de ópio. “Dose – [Para crianças com] cinco dias, 3 gotas. Duas semanas, 8 gotas. Cinco anos, 25 gotas. Adultos, uma colher cheia”, indicava o frasco do produto, que contava com 46% de álcool.
A geração da Flor, da Paz e do Amor, do festival Woodstock viveu embalada por sexo, drogas e rock, não necessariamente nesta ordem. A intenção era promover a paz. Jimi Hendrix, Joe Cocker , The Who, Joan Baez, Janis Joplin, Santana foram alguns dos nomes que subiram ao palco.
Longe, muito longe, de toda aura religiosa, medicinal e de promessa de um mundo melhor, que a impulsionou no passado, a droga, lícita ou ilícita, tem se constituído no grande flagelo do nosso tempo. O rastro de destruição que vem proporcionando é tão poderoso, tão impactante como um abalo sísmico, como os desastres ambientais, ceifando tantas vidas, comprometendo tantas famílias quanto as intempéries deste começo de 2010.
Dia desses, ao cumprimentar uma pessoa conhecida, fui surpreendido pelo desespero. Ali na rua, enquanto as pessoas passavam, esta mãe confidenciava o tamanho de sua dor. Disse que a droga estava destruindo sua família. Que já não apresenta mais forças para lutar. Não encontrava formas de combater este inimigo, que entrou silenciosamente na vida da família, e foi destruindo as relações, afastando o filho de seus pais, criando um verdadeiro abismo entre eles, gerando insatisfação, desconfiança e medo.
Longe de representar uma viagem aos céus, as drogas empurram os usuários e familiares para um poço profundo, muitas vezes sem volta. A mãe, em desespero confessou, talvez desejando não ser ouvida. “Não tenho mais vergonha de dizer: como está não pode ficar...”. Soluçando, falou baixinho: “nunca pensei que desejasse a morte de meu filho!”.
Não sei ao certo o que disse. Talvez nem soubesse agora, mesmo tendo passado algumas semanas do diálogo. O certo é que tentei de alguma forma confortá-la. Que dor, que sofrimento a droga causa às pessoas. Que poder tão destruidor é este que tira a esperança de uma mãe? Que força é esta tão poderosa que consegue neutralizar uma mãe, que criou seu filho com todo o amor do mundo e de tanto sofrer admite até perdê-lo?
Muitas outras mães, com certeza, já se dobraram. Já não têm mais forças. Já perderam as esperanças nesta luta tão difícil. Porém, é fundamental que as mães sigam acreditando, que continuem investindo na vida de seus filhos. É uma guerra e a luta, pelo que se vê, ainda está no início.
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