28/06/2010

Lembrando Michael Jackson

Completou, dia 25 , um ano da morte de Michael Jackson. Se nos últimos dias de sua existência o que mais se falava era dos escândalos que o perseguiam, após sua passagem o que mais se valoriza é o talento ímpar do Rei do Rock. A crônica a seguir foi publicada no Jornal Bons Ventos dias após a sua morte.

A morte e a eternidade

Morre Michael Jackson. Começa uma nova história. Por algum tempo, porém, seu nome ainda será marcado pela série infindável de antimarketing que o acompanhou nos anos de caos. Os escândalos, os vexames públicos, as incompreensões, as manias, as loucuras vão aos poucos se esvaindo, deixando uma pequena nuvem, que vai desaparecer por completo ali na frente.
Esta tendência do esquecimento do lado sombrio e negativo não é nova. Ela remonta ao princípio da civilização. Naquele tempo, antes mesmo de romanos e gregos semearem suas culturas por todos os rincões, os mortos eram criaturas sagradas e recebiam, obrigatoriamente, todos os cuidados da família para que a sua memória não fosse esquecida.
O culto aos mortos foi a primeira manifestação religiosa que se conheceu. É encontrado entre os latinos, os helenos, os sabinos, etruscos e mesmo nos primórdios da cultura greco-romana. As ações positivas ou negativas, morais ou imorais, não determinavam a santidade. Todos os mortos, independente de seu estágio evolutivo, de seu caráter, de sua obra, eram criaturas sagradas.
Além de presentes no dia-a-dia, através do culto realizado na frente de altares, que ocupavam lugar de destaque na casa, os mortos tinham, na visão destes povos, poderes de influenciar nas suas vidas. Temendo desagradá-los, a família mantinha o costume de servir periodicamente refeições nas sepulturas. Ali eram depositados pães, mel, queijos e vinhos para que o morto, agora um deus, pudesse alimentar o corpo.
Os mortos recebiam as súplicas da família e podiam, conforme se acreditava, determinar melhor sorte nos negócios familiares, influenciando na melhoria da produção agrícola, na ampliação da produção leiteira e até na saúde dos familiares.
A morte foi o primeiro mistério a ser enfrentado pelo homem. Foi aquele capaz de retirá-lo das agruras de uma existência rude e colocá-lo em contato com o divino, com o eterno. Foi o paradoxo da existência e não-existência que fez surgir no homem a busca pela solução das questões fundamentais: quem sou? de onde vim? para onde vou?
No caso de ídolos como Michael Jackson, Elvis Presley, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Raul Seixas, Renato Russo, Cazuza, Elis Regina, Tim Maia e outros poucos, a morte tem o condão de revigorar, redimensionar o aspecto da produção artística em si. Lamentamos é claro que tenham partido, coincidentemente ou não, ainda muito jovens. No entanto, mesmo que tenham viajado para a outra existência muito cedo, deixam uma obra que se sustenta e fala por si própria. É a própria eternidade atingida.
Michael Jackson era exímio em tudo. Cantor, bailarino, compositor, mestre no palco, dono de talento insuperável, era o ícone dos holofotes, das luzes, das cores. Michael, no entanto, não conseguia viver a vida real. Sua vida não era um sonho, era um pesadelo. Destes pesadelos emergiram obras-primas. Dançamos, sorrimos e brincamos na sua batida.
Agora, que já partiu, conquistou a compreensão de todos. A compreensão que todos os mortos nos merecem e que, por vezes, não sabemos dar aos vivos que nos rodeiam.

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