Nota
10. É o que esperam os pais do desempenho de seus filhos em idade
escolar. A nota máxima faz bem ao ego, especialmente ao dos pais. No
entanto, sabemos que o aluno nota 10 é a exceção. Em regra, a
garotada se divide entre os atrasadinhos, os medianos, os bons e
alguns poucos “este cara sou eu”.
Tive
colegas nota 10. Daqueles que o professor começava a falar
determinada coisa e ele emendava com correção e presteza o final da
sentença. Uma chatice só. Um deles, cujo nome não revelo (não
para evitar constrangimento, mas sim porque já esqueci), se
especializou tanto em terminar frases por ele não iniciadas que um
dia, tendo faltado à aula, deixou o professor na maior saia justa. O
coitado iniciava uma sentença, dava um tempo esperando que o aluno
faltante completasse a frase. No ar ficava o constrangido silêncio.
Uma
outra colega não tirava nota menor do que a máxima. Era uma
ilusionista. Conseguia condensar toda a matéria em uma tirinha de
papel brilhantemente enrolada. Se precisasse escrevia toda a bíblia
em código num pedaço minúsculo de papel que cabia entre seus finos
dedos. Ela inventava de tudo. Era pós-graduada em cola. Mesmo
aqueles professores durões, que flagravam qualquer tentativa de
burla, eram magicamente enrolados pela esperta colega.
Fazia
parte da grande turma dos medianos. A característica deste grupo é
atingir a nota necessária para aprovação. O que não é muito bom.
O que não é um exemplo salutar para as novas gerações. Porém, os
medianos daqueles tempos tinham auto-estima, sim. Um nove ou um 10
vez por outra não estava fora de cogitação. Os medianos não eram
apáticos. Eram desligados, desplugados. Eram mais ou menos. Não
eram, porém, nulos.
O
que não sabíamos, os medianos de então, era de que cabíamos na
categoria dos medíocres. A professora de Português é quem foi a
responsável por comunicar aquela enorme turma de medianos de que
todos nós, com exceção dos nota 10 e dos bons, eramos sim
medíocres. O que foi um espanto geral. “Fulano de Tal, abra o
Aurélio e leia aos colegas o que significa o vocábulo mediano”,
ordenou com decisão. “Mediano – adjetivo. Que está no meio,
ou entre dois extremos; médio, meão, medíocre”, leu
nosso colega com sonolenta e indecisa
voz.
Misto
de decepção, incredulidade e
revolta. “Quem era
este tal de Aurélio para dizer isso de nós?”, pensou alguém lá
na frente. “Essa bruxa só pode estar brincando”, pensou outro
dedicado medíocre no meio da sala. O pessoal
do fundo mal se mexia na cadeira. Gelados, talvez nem pensassem.
Acredito que a atitude da
professora de Português tenha mexido com os brios da turma. Nas
avaliações que se seguiram houve considerável nivelamento para
cima. Os meia-boca deixaram a confortável zona que ocupavam e se
dedicaram um pouco mais. Melhores trabalhos, um pouco mais de
atenção, maior participação, um pouquinho mais de estudo e, por
consequência, notas um pouco mais elevadas.
Com
o tempo muitos voltaram aos padrões corriqueiros. No entanto, valeu
a lição. “É isso que querem para suas vidas? Notinha para
passar? Onde está o prazer? Quem
sabe lutem para fazer as coisas da melhor maneira possível? Quem
sabe trabalhem para fazer mais e melhor?”.
Momentos
de indignação são importantes para a vida. Consultar o Aurélio,
nem que seja de vez em quanto, também.
Fez-me lembrar da minha filha que relatou o seguinte:: "Mãe, a minha professora queria que eu compartilhasse com a turma o motivo da graça, pois eu estava rindo na aula. Não pude dizer. O motivo que não consegui segurar o riso era pela colocação da própria" : " a gente podemos ....." E, para completar ela ainda escreveu no quadro "fraze" com z. Resumindo, Solano, não pude nem chamar a atenção pela atitude dela. Fiquei muda!
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