O dia bem que poderia ter mais do que 24 horas. É o que pensa o jovem empresário, no auge da sua produtividade. Trabalho, casamento, filhos na escola, academia, encontro com os amigos. Carreira, negócios, relacionamentos. Tudo agendado, sem chances de improviso, de erros. O dia fica pequeno para tanta atividade.
O dia é longo demais, pensa a velha senhora, envolvida com suas dores no corpo, com seus medicamentos (acondicionados em uma caixa de sapatos), com a repetitiva e pouco atrativa programação da televisão. O dia é grande demais. O tempo solitário é longo. Os minutos passam sonolentos. As horas se seguem em câmera lenta. Os turnos se sucedem preguiçosamente.
Para o jovem, cheio de energia, de sonhos e de possibilidades, o tempo não tem preguiça. Não tem sono nem relaxamento. A tomada sempre está ligada. As ações se seguem, sem interrupções. Não há como desperdiçá-lo. Há carência, nunca excesso.
Já para o idoso, especialmente o solitário, o tempo é abundante. Por vezes é torturante, é depressivo.
Há exceções, é claro. Há jovens que vivem como se velhos fossem. Na tenra idade carregam corpos pesados. Pouco projetam para o tempo futuro. Esnobam as possibilidades. Abandonam os sonhos. Arrastam-se como se energia ali adiante fosse acabar. Por outro lado, há experientes senhores e senhoras que, mesmo não escondendo as marcas que a passagem do tempo os presentearam, ainda assim se rebelam. Como se adolescente fossem, vivem o presente e não abandonam o futuro. Cuidam de si. São vivos, atuantes, buscando a diversão, o entretenimento mesmo que contrariando a lógica dos familiares que exigem ações mais discretas, que os desejam sossegados, quietos.
O tempo é o mesmo. Os olhares, os sentimentos, as emoções em relação a ele é que variam. A impressão de que passa rápido como um fogoso corcel ou excessivamente lento como um matungo é uma conclusão individual que está diretamente ligada à ideia que cada um faz da vida, aos objetivos e às práticas diárias de cada pessoa.
O tempo é um senhor arrogante. Ele não se preocupa conosco. Impávido, permanece em seu pedestal, de nariz empinado. Não sorri nem chora. Não se compadece com as reclamações dos que querem mais e nem dos que menos precisam. Ele não demonstra emoção. Não se cansa. Nós, os humanos, é que cansamos. Nós é que nos preocupamos. Gastamos nossas energias nos tornando melhores ou nem tanto. Ele fica no seu lugar. Jamais desce de lá. Talvez até se divirta quando ouve as nossas reclamações. Mas, se as ouve, jamais demonstra.
Quem sabe o tempo, lá no seu íntimo, não esteja refletindo sobre os homens: “bobinhos, não sabem o que querem e vivem a reclamar”.
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