Imaginava-se que, na entrada do terceiro milênio, algumas das maiores chagas da humanidade estivessem eliminadas. Este era pelo menos parte do sonho de uma geração que sofreu vendo seus jovens morrendo nas guerras. Paz e amor; Faça Amor não Faça Guerra foram as expressões usadas para pressionar os governantes belicistas na tentativa de calar as metralhadoras e as bombas que choviam sobre a cabeça de milhares de inocentes.
O movimento pacifista, que começou nos EUA, gerou filhos. A rebeldia dos jovens cabeludos, vestidos sem rigor, espalhou pela América do Norte e pelo mundo mensagens de paz, amor, de respeito à diversidade sexual e racial, de liberdade, de preservação ambiental, de repúdio à guerra e à ganância econômica das potências. Hair, o musical da Broadway, dos anos 60, que depois virou filme em 1979, apresentou em grande estilo as esperanças e os sonhos de um mundo melhor na Era de Aquarius.
Os costumes mudaram. O mundo avançou em muitos aspectos. De algum modo as bandeiras levantadas pelos jovens do passado foram sendo recepcionadas pelas gerações seguintes. Porém, uma das mais repugnantes marcas da humanidade ainda continua forte, resistindo à ação do tempo: o racismo.
A separação do homem pela cor da sua pele é uma realidade lamentável, inclusive nos dias de hoje. Isto que, longo tempo foi percorrido desde que os europeus sentiam-se autorizados a escravizar os outros povos com o argumento de que os não-brancos não tinham alma. Eram animais, não humanos, logo poderiam servir aos caprichos dos seus donos.
O avanço tecnológico e científico, o aprimoramento dos costumes, a ampla socialização da informação, nada disso conseguiu até agora demover parte dos humanos do vício primitivo de atentar contra o outro. As manifestações mais grosseiras não vêm necessariamente dos recantos mais atrasados economicamente. São gargantas de primeiro mundo que urram, sem vergonha, sem nenhum constrangimento odiosas palavras contra seus semelhantes, destacando a cor da pele como algo negativo, degradante.
Notícia publicada dia desses, dava conta que o senador italiano Roberto Calderoli, em reunião de seu partido, disse que a ministra de origem congolesa Cecile Kyenge deveria ministra em seu país, concluindo que “quando vejo imagens de Kyenge, não posso deixar de pensar em suas semelhanças com um orangotango, mesmo que eu não diga que ela seja um deles".
A manifestação, claro, foi bombardeada nas redes sociais e o próprio governo italiano lamentou o deslize do político. Lamentavelmente, as palavras injuriosas ditas por Calderoli fazem eco entre os italianos. A situação é tão preocupante que o presidente da FIFA Joseph Blatter, constrangido com os urros vindos das modernas cadeiras das arenas italianas contra os atletas negros, ameaçou recentemente tomar medidas drásticas contra os clubes.
Não vamos muito longe. Aqui, neste recanto do planeta, bastou a Seleção Brasileira botar os bobinhos espanhóis na roda e o que se ouviu foram urros na Europa. Macacos, orangotangos, foi o mínimo que nos chamaram. Futebol é assim mesmo, pode pensar alguém. Nada disso. Respeito é bom e todos merecem. Já é tempo de que essas vozes ultrajantes sejam abafadas. É o mínimo que se pode dizer afinal, a lua já está na sétima casa e Júpiter está alinhado a Marte. Aguardemos então para viver um tempo em que a paz guiará os planetas e o amor governará as estrelas.
Saiba mais sobre o tema:
Hair - No palco e na tela
Aquarius - Letra e vídeo
Racismo no futebol italiano
Racismo na Itália
Excelente matéria Solano. É quase inacreditável que ainda existam pessoas racistas. Acho que somente medidas de conscientização não resolvem o problema. É necessário que sejam tomadas medidas punitivas, principalmente no futebol que movimenta milhões de pessoas no mundo inteiro e os exemplos são muito importantes.
ResponderExcluirObrigado pela contribuição, querido amigo. Não podemos deixar de demonstrar nossa indignação quando irmãos nossos são discriminados simplesmente pela coloração da pele!
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