O artilheiro gira com rapidez,
engana o zagueiro e desfere um chute perfeito. A bola descreve uma curva, sobe
e desce dentro do gol. O goleiro assiste a tudo. Nem tempo teve para esboçar
alguma reação. Ficou pregado no chão. O treinador balança a cabeça. Se
persistir assim será mais uma derrota. A quinta seguida. E seu emprego está
ameaçado. Importa reagir. O clima fica pesado. A torcida na arquibancada logo logo vai pedir sua
cabeça. Ela quer a vitória. Ele também. Só a vitória interessa, sempre.
O
artilheiro fecha os olhos e corre em direção à sua torcida. Levanta as mãos
para os céus. Humildemente diz que seu gol não foi obra dele. Que não foram sua
habilidade, seu treino, sua perspicácia nem seu talento os responsáveis pela
bela obra. O gol foi da divindade. E corre gritando para as câmeras de tevê:
“não fui eu, não fui eu, não fui eu!”. O grito da torcida abafa sua voz.