Se tem
algo que Leonel faz, sem medo, sem dó e com frequência, é sonhar.
E, vez por outra, aparece alguém que o acusa de sonhador. Ele não
retruca e nem protagoniza grandes defesas. Cala. E sonha novamente.
Porém,
apesar da sentença que repetidas vezes se impõe sobre sua cabeça,
acredita firmemente que o que conta, no momento, é a imagem que se
tem do sonho. Muito frequentemente se vê divagando que se
encontrasse pela frente cinquenta arco-íris cinquenta vezes
lembraria que existe um pote de ouro na sua base. Não adiantaria
teoria científica nem longas pesquisas no Google. Instintivamente
pensaria no pote de ouro. Pensaria no sonho, na magia, na lenda.
Acreditaria sem pensar. Se racionalizasse, claro, o sonho deixaria de
acontecer.
Leonel,
que não é trouxa nem nada, bem aprendeu que o prisma de luz que
resplandece no horizonte é uma mera projeção. Que é apenas uma
ilusão de ótica e que o tal do arco existe tão somente para ser
visto. No entanto, no exato momento em que ele aparece à frente dos
seus olhos, a imagem do pote de ouro se faz presente. Isto, para ele,
é inevitável como a morte é para a vida.
E,
mesmo pego na “mentira” não se envergonha disso. “Que seja uma
doce ilusão, que seja uma fantasia, que seja uma miragem”, ensaiou
certa vez. Melhor viver com ela do que caminhar a esmo descrendo do
componente mágico que o universo apresenta diariamente diante de
nossos olhos, completou o discurso.
Ele
mesmo, Leonel, vez por outra enfrenta uma verdadeira batalha.
Despenca, enfrentando dias de calor insuportável, um trânsito
caótico, um acúmulo de pessoas deprimente. Paga seu ingresso, muito
caro por sinal. Entra em uma sala escura e fria. Os ouvidos
acompanham dentes que trituram pipocas e bocas que sugam a última
gota do grande copo de Coca-Cola. Assistidos os comerciais do Bibs e
da seguradora e uma série infindável de propagandas de filmes que
estão sendo lançados.
Sentado
diante de uma tela branca enorme, vai entrando dentro do filme. E o
coração de vez em quando dispara no exato momento em que a música
de fundo se torna mais forte, marcando que o herói enfrenta o
perigo. E sente emoção quando o jovem apaixonado está com o
coração partido. E raiva diante do vilão. E mesmo o calor da bomba
explodindo na guerra e destroçando corpos. Uma verdadeira profusão
de sentimentos diante de uma mera projeção. E durante a história
não há como enveredar para o lado da farsa. A tela deixa de
existir. O que há é um fato. O fato que se apresenta em sua frente.
Ali está uma verdade posta. Os personagens, que sofrem, lutam,
morrem, se apaixonam, se separam são meras projeções jogadas numa
tela. Mas não parecer ser somente isso.
E, ao
terminar o filme, notam-se olhos marejados, rostos felizes ou
tristes. Gente satisfeita ou não. Mas, nunca indiferente. E ninguém
admite que foi ludibriado. Que tudo aquilo que foi projetado na tela
era uma falsidade. Que a história era apenas um engodo, algo
irreal, criado para encher os bolsos dos produtores, dos executivos e
dos donos da sala de projeção. Saem dali pessoas crentes de que
aquilo é algo real. E ninguém, no calor da hora, lembra que tudo
não passou de um facho luminoso que foi projetado por uma fria
máquina.
O
arco-íris é um holograma natural. Aos olhos de Leonel, o sonhador,
bem que pode esconder em sua base um pote de ouro. No seu devaneio
instantâneo, acredita que este pote merece ser procurado.
Como diria aquele samba enredo, antigo, do Rio: "Sonhar não custa nada".
ResponderExcluirSim. Poucas são as verdadeiras liberdades nossas: pensar e sonhar.
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