Eduardo
Galeano partiu nesta semana. O escritor uruguaio fará falta por
aqui. Seu texto preciso, enxuto e certeiro, suas histórias de gente
simples em momentos singelos e de rara beleza farão muita falta. Sua
visão de mundo, tão particular, tão poética, capaz de captar o
belo, a tristeza, a melancolia e a alegria em cenas triviais, por
certo não será esquecida tão facilmente.
Lendo
Galeano vez por outra me questiono: afinal, como pode enxergar o que
enxerga de modo tão diferente? Como meus olhos não conseguem captar
o que ele capta? Claro, cada um de nós vê o mundo não somente com
os olhos. As imagens vão se misturando com os cheiros, sabores,
sensações, sentimentos e instintos que são nossos, que foram
granjeados ao longo de nossa caminhada. Toda esta mistura vai agindo
de modo silencioso. E, a partir disso, vamos montando nosso mundinho.
Território próprio e intransferível.
Quantos
de nós temos predileção pelo mar? Imensidão de água límpida,
embalada por leve brisa e ondas que vão e voltam num ritmo lento,
permanente, incansável e imutável. Claro, podemos incrementar a
paisagem. Se gostamos de movimento, podemos incluir aí na cena
dezenas de jovens, moços e moças exibindo seus corpos, sarados ou
não, suas tatuagens tribais em braços bem torneados, em pernas
longilíneas, nas costas ou no peito. Pensando bem, na cena ainda
cabe um verdadeiro mar de guarda sóis com propagandas de bancos ou
de operadoras de telefonia celular. Vendedores de sorvetes, com suas
inafastáveis buzinas que chamam os moleques, sempre atentos a
achacar os pais por mais um picolé de uva. E os rapazes que vendem
queijo coalho, com aquele cheiro de orégano queimado, também não
podem falar.
Evidentemente
que mineiros e capixabas também têm o direito de transitar por ali
com seus carrinhos improvisados levando toneladas de vestidinhos,
blusinhas e saídas de banho tão apreciados pelas meninas, jovens e
não tão jovens assim. E as redes, as mantas e as toalhas também
estão nos ombros fortes dos suados vendedores.
Eduardo
Galeano, por sua vez, vê beleza na imensidão do mar. E, em O Livro
dos Abraços, nos faz acompanhar Diego, um menino que é apresentado
à imensidão pelo pai. Simples, singelo, direto e belo.
“Diego
não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que
descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele,o mar, estava do outro
lado das dunas altas, esperando.
Quando
om enino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois
de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta
a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de
beleza.
E
quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao
pai: -Me ajuda a olhar!”.
Saiba mais sobre Eduardo Galeano
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