Aspecto da área central de Osório (1979). Foto de Carlos Adib |
Um dia, talvez num final de tarde de verão, a Ivete estava na frenta da casa. Sentada no muro como sempre. Como sempre não, ela não estava só. E, de modo interesseiro, nos aproximamos com mais fervor que antes. E conversamos mais demoradamente com a Ivete. E ela apresentou sua prima. Ela vinha da Capital, o que aumentava o nosso interesse. Gente do interior admira quem vem da Capital. É como se fosse um estrangeiro. Na visão da gurizada daquela época, quem vinha da Capital sabia mais das coisas da vida. Vivia experiências diferentes. Enfim, quem vinha da Capital tinha o nosso respeito.
E ainda por cima era uma menina. Uma jovem das nossas. Tinha a nossa idade. E contava as coisas da Capital. Era graciosa enquanto falava. Tinha cabelos longos e pretos. E um sorriso tímido. E seu jeito conquistou um espaço nos corações da turma. Mesmo estando ali, abandonamos a Ivete. E nossos olhos eram todos na prima da Ivete.
Não sei quanto tempo ela ficou. Sei que um dia íamos pelo trecho. Torcíamos para que a menina da capital estivesse ali. E vimos que Ivete estava só. Sua prima havia partido. E durante bom tempo, a prima da Ivete fez parte das nossas conversas.
Sei que vez por outra retornou. Vimos ela sentada no muro. Conversava com Ivete. E conversamos com elas. E trocamos ideias. E contava as coisas da cidade grande. E como gostávamos disso tudo. Eram papos simples. Talvez discutíssemos coisas banais. Coisas leves. Sem grandes dramas. Não lembro o que falávamos. Nem a profundidade destas conversas. Imagino, porém, que fossem conversas muito simples e despojadas. Talvez fosse nosso propósito somente impressionar. Ou, talvez fosse um envergonhado arrastar de asas. Certo é que tentávamos chamar a atenção das meninas. Lembro, porém, com certeza o quanto era bom encontrar as meninas no muro para uma conversa. Especialmente se alguma delas pudesse trazer as novidades da Capital.
Os dias passaram, como sempre acontece. Outros verões vieram. Assumimos outros compromissos. Já não trotávamos mais pela Costa Gama em direção a 15 e ao Polivalente. O panorama mudou. A turma deixou de existir. Muitos dos nossos seguiram rumos diferentes. Alguns jamais retornaram. Os muros foram abaixo. Os moradores mudaram. Crescemos. E nossos olhos jamais voltaram a encontrar Ivete e sua prima. Mudamos de rumo, seguimos outros caminhos. Todos nós. E com o tempo deixamos de ouvir as notícias da Capital.
Hoje me intriga um pouco quando imagino o que pensava aquela menina quando encontrava aqueles carentes meninos que ouviam atentamente suas histórias.
Indico o site abaixo para lembrar a arquitetura e um pouco da história de Osório.
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