Iniciar uma
conversa fiada é uma das tarefas mais fáceis. Basta que se jogue aleatoriamente
ao céu algum assunto. Qualquer um. Sério, como a crise na Grécia; divertido,
como a repercussão na rede social de alguma baboseira qualquer; científico,
como a múltipla existência dos seres e seus processos de aperfeiçoamento ao
longo das etapas vivenciais ou o insuperável chavão masculino sobre o
desempenho dos times do Estado na tabela do Brasileirão. Enfim, se a inspiração
for por demais rasteira, basta que se lance mão do velho e surrado tempo. Vai
chover? Vai parar de ventar? Como o tempo passa depressa, né? Parece que foi
ontem que o ano começou, não é? E a semana? Passa sem que a gente sinta. Mal
termina a música do Fantástico e já é sexta-feira. Parece que tudo está
correndo. Não se nota o dia passar, a semana, o mês e o ano.
Alguém
que, por ventura vai passando por ali, interessado no assunto que pescou no ar,
valendo-se de seus conhecimentos filosóficos pode mesmo dizer: “o tempo não
existe”. E emendar outras assertivas complexas, porém lógicas. “O tempo é mera
abstração. É uma invenção humana. Vivemos todos uma realidade fictícia,
virtual. Criamos o relógio para aprisionar o tempo. Porém, ele foge, ele não se contém, ele não respeita
nossa vontade”.
A
conversa fiada não requer métodos. Vale perguntar e responder, vale indagar
coisas desconexas na mesma conversação. Enfim, tudo tem algum sentido no
aparente caos. Ela é sedutora. Pode
mesmo vencer o limitado círculo imposto pela geografia. Não é incomum que a
conversa fiada de um grupo avance e ganhe vida. E conquiste outros adeptos, até
então imunes ao blá-blá-blá alheio.
Pensando
melhor: uma conversa fiada, iniciada assim de maneira despretensiosa com o
sutil objetivo de distrair o tempo, de romper o silêncio ou preencher o vazio,
na realidade, pode derivar sim para outro terreno. Este mais denso e mais
sério. Basta que passe por ali um destes
apaixonados pelas questões filosóficas, espirituais ou transcendentais, que levam
a sério até mesmo singelas fórmulas
antigas como “como vais?”, “tudo bem?”.
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