Chove. Venta um pouco. Raios
iluminam a noite escura. A luz entra pela janela. Os trovões acordam aqueles
que tentam dormir. Chove novamente. O inverno avança. A temperatura cai. Vez
por outra se juntam chuva, vento, raios e trovões e assustam as meninas e os
meninos que cobrem a cabeça com o cobertor. Não há cobertor que resista à forte
luz dos raios e ao barulho ensurdecedor dos trovões. No passado diziam os avós aos netos que o barulho
era porque São Pedro jogava bolão no céu. Esperava-se o barulho dos pinos
caindo e sendo erguidos pelo mecanismo. Mas, nada! Só a pesada bola correndo
pela pista.
E
num som mais estridente, alguém corre para tirar a tevê, o micro-ondas e o som
da tomada. A avó se vê dizendo em tom de mantra "Santa Bárbara, São Jerônimo; Santa Bárbara, São Jerônimo".
É
inverno no Sul. A água da chuva toma conta dos pátios, das casas, das ruas, dos
bairros e das cidades. Afasta as pessoas de suas casas. Vira manchete de
telejornal. Rio sobe e desabriga pessoas. Forte chuva derruba postes. Falta
água aqui e acolá. Céus! Onde estamos?
Eis
que o sol, que esteve tão preguiçoso por um bom tempo, coloca as manguinhas de
fora. No começo tímido se esconde atrás de nuvens pesadas. Sol e chuva,
casamento de viúva. A água vence e atemoriza de novo. E vira o assunto do dia.
“Quando vai parar de chover?”. Difícil encontrar alguém que não pergunte isso.
Difícil quem não arrisque um palpite: “parece que amanhã ela vai embora!”.
Os
meses passam e chega a seca. E a chuva quando virá? Que calor! Tá tudo seco,
precisando de uma chuva. E os telejornais falarão dos dias de sol e da falta
que a chuva faz. E da soja que morreu. E do feijão que não prosperou. E do gado
que não tem água. E da quebra na produção do leite e da carne. E do aumento dos
preços do tomate e do alface. E alguns chorarão na tevê pelo prejuízo que
tiveram. E todos ficarão tristes porque a tristeza estará no ar.
E
a chuva chegará e lavará as calçadas. E será suficiente em algumas áreas e
faltará ainda em outras. E os dias seguirão como devem seguir. E nem todos
ficarão contentes. Alguns resmungarão uma falta aqui outra acolá. Mas isso não
será notícia no telejornal. Para aparecer na tevê tem que ter impacto. A
impaciência de um só não é notícia. A infelicidade de um só não dá ibope.
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