29/06/2016

O Sonho

Sonhei que todos os reis estavam nus. Todos eles. Em todos os reinos. E não se culpe o pobre do rato. Não foi ele quem roeu a nobre roupa. Os reis estavam nus porque era necessário que os reis assim estivessem. Era melhor para todos que as altezas não mais se escondessem atrás de trajes requintados e de perucas bem arrumadas.
A transparência era total: os reis, mesmo eles, não tinham como esconder seus rabos.
E, se assim mesmo algum deles tentava, se insistia na vã tentativa de esconde-esconde, mais dia menos dia viria a ser flagrados. E, o pior: não teria tempo para cobrir suas partes pudendas. Desacostumados com a nova ordem, gastariam longo tempo tentando o inevitável.

27/06/2016

O Vereador

Eis que, dentro de alguns meses, poucos meses, teremos eleições novamente. Prefeitos, vice-prefeitos e vereadores serão escolhidos em todo o país. O barulho será o mesmo de sempre: a oposição mostrando que os governantes não acertam o passo e que o plano de governo mais condizente com o futuro almejado pelo povo é aquele que estão apresentando. O novo, o certo, aquilo que as pessoas precisam para uma vida feliz.

07/06/2016

Novos Tempos

O inverno não é tão rigoroso aqui quanto parece. Muito embora o vento geladinho tenha adquirido a mania de vir cantando enquanto atravessa a Costa Gama em direção ao Porto Lacustre, podemos concluir que a temporada mais rude daqui até que se comporta bem. Dá uma bagunçada quando mistura vento e chuva, mas, no mais, é francamente suportável. Ao menos para aqueles que têm umas roupas mais apropriadas, um carrinho para se deslocar pela cidade e região e uma casa bem abrigada. Se tiver uma lareira na sala melhor ainda. Se contar com pinhão e pipoca, um sofá  e uma conta no Netflix, a situação fica graúda. 
Pior é no Alasca. 40 graus negativos quando tá favorável. Nevasca de vez em quando. Se o freezer não estiver cheio de carne e o depósito com lenha até o teto, a situação será no mínimo preocupante. Tem alguns documentários na tevê que mostram o quanto a vida é dura para os que se arriscam por aquelas bandas. A natureza lá não manda recados sutis. Os homens que lá vivem, acostumados com a rudeza, uns dias antes da chegada da neve, vão à luta embrenhando-se na mata atrás de veados. Quando a neve chega, seguem por trilhas distribuindo armadilhas para surpreender pequenos roedores que darão menos carne e mais pele. É a sobrevivência. O homem no seu ambiente mais primitivo.

Filme de Terror

O mundo é nossa aldeia ampliada. Os choros e as lamentações, as alegrias e os prazeres, os medos, os temores e as seguranças, que se sentem por aqui são os mesmos que se sentem ali adiante. De algum modo o que se faz por aqui é o que se faz lá e acolá.
Os trambiques, as maracutaias, as tramoias do andar de baixo se reproduzem nos andares de cima. Porém, aqui vai um detalhe importante, quanto mais alto o andar maior o enrosco. Se seu João do Armazém coloca no caderninho alguns centavos a mais na conta de cada um dos seus clientes, preventivamente criando um fundo para resgatar os valores perdidos quando um dos caloteiros esquece-se de pagar a conta no final do mês, nos andares de cima esta conta cresce sobremaneira.