03/04/2017

Filme Triste

A impressão que se tem nestes dias é de que vivemos em uma embarcação perigosamente lançada em meio a corredeiras. O capitão tem pouca prática. Os marujos, da mesma forma, são especialistas em juntar tesouros, porém, mal sabem executar as tarefas que garantam alguma segurança à tripulação.  O serviço que importa este momento: cruzar as águas violentas e traiçoeiras não é prioridade. Estão todos, capitão e marujos, preocupados em posição de defesa, escondendo os baús cheios de moedas de ouro e pedraria que amealharam aqui e ali. Faz-se irritante silêncio. Dizem as más línguas que acordos são costurados aqui e ali. Muito confete, muita serpentina, muita manchete e ações deliberadamente lentas para um lado e rápidas para o outro. O enredo é arrastado. Os mocinhos são canastrões. Só os ingênuos não enxergam que estamos diante duma peça de teatro mal ensaiada. Os atores são medíocres. Mas convencem quem quer se convencido.

Dentro de quantos anos, ou décadas, nosso país sairá desta enrascada? Quando, enfim, chegará um momento de alguma estabilidade por aqui? Quais os próximos capítulos desta longa e já nem tão emocionante trama? Vamos segurar alguma ponta aqui para estourar outra lá?
Não sei responder por que do futuro nada sei. Aliás, do presente também pouco sei. Desconfio. Só desconfio. Minha porção paranóide, porém, me aponta que podem existir pactos e mais pactos envolvendo gente engravatada e de fala mansa, gente com a câmera na mão e microfone em punho, distintos senhores com capas pretas e olhares seguros de quem sabe o que é direito e o que não é, economistas mais preocupados com os humores da bolsa e com a concessão de algum patrimônio para ser explorado por um competente parceiro de Trump. Sei lá, são tantas variáveis que já não dá nem para acompanhar de perto esta novela com tantos personagens agindo ao mesmo tempo e tantas tramas paralelas.      
De tanta gente envolvida, de vez em quando alguns personagens somem sem deixar rastro. Onde andarão estes seres vestidos de verde e amarelo que mandaram suas empregadas baterem nas panelas bem durante o Jornal Nacional? Talvez dê uma reviravolta e alguns deles apareçam apoiando algum candidato a ditador ali na frente. Sabe-se lá o que  vem pela frente.
O Brasil desafia a lógica. A lógica por aqui parece ser o avesso.

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