"Alguns povos não por falta de etiqueta, mas por razões culturais, até hoje não usam os utensílios na mesa. Na Índia, por exemplo, somente os locais mais ocidentalizados, como os restaurantes e nos grandes centros, é possível servir-se conforme s nossos costumes".
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Nem sempre as coisas foram como
são. Houve um tempo, que a memória humana impede que alguém se lembre, que nada
tinha nome. Os costumes eram outros. Os utensílios eram outros ou nem existiam.
Em síntese, o mundo era outro, mais simples, mais grosseiro, sem tantas
alternativas e confortos.
Os
povos antigos, por exemplo, atacavam a mesa com total falta de finesse. Aliás,
mesa não existia. No quadro A Última Ceia, Jesus está cercado de apóstolo ao
redor de uma grande mesa bem posta, com toalha, pratos e talheres. Liberdade
criativa de Leonardo Da Vinci. A mesa de jantar, com tolha, talheres copos e
pratos foi introduzida somente no século XIV, ou seja, 1300 anos depois da cena
retratada pelo genial pintor italiano. Nos
tempos de Jesus de Nazaré, os homens humildes usavam as mãos para comer os
alimentos sólidos, como carne e raízes, e colheres para os líquidos. Mesmo a
alta classe atacava à mesa sem nenhuma parcimônia.
Polêmicas
à parte: as facas são os utensílios domésticos mais antigos. Era arma nos
primeiros tempos. Depois virou pau para toda a obra servindo para descascar,
cortar, picar, matar, ferir. Legitimamente é o produto de 1001 utilidades. O
curioso é que a palavra não tem origem conhecida. Alguns estudiosos tentam
garantir que a faca surgiu lá pela África e faz referência a algo cortante.
Já
colher é barbada: vem do grego kokhlías,
ou concha do caracol, uma alusão ao hábito muito antigo de improvisar a casinha
do molusco como utensílio para facilitar a junção dos líquidos da panela.
Alguns
povos não por falta de etiqueta, mas por razões culturais, até hoje não usam os
utensílios na mesa. Na Índia, por
exemplo, somente os locais mais ocidentalizados, como os restaurantes e nos
grandes centros, é possível servir-se conforme s nossos costumes. Em regra, os
alimentos são servidos em tigelas e levados à boca com a mão. Com a mão
direita, pois a esquerda não traz boa sorte, além de que é usada para higiene
pessoal.
Para
muitos, apegados às tradições impostas a partir das cortes francesas, outra
forma de ação é praticamente impossível. Se alimentar sem o uso dos utensílios,
utilizando as mãos é um escândalo. Por
falar nisso, coisa que brasileiro está acostumado é com escândalo. É um por
semana. Não é coisinha pequena, fofoca de revista de artista. Isto é coisa do
passado. A coisa mudou. Uma semana é o chefe da nação e sua turma, sempre ávida por meter a mão na cambuca.
No outro é do tribunal. Depois, o chefe que manda arapongas cuidar da vida do
magistrado.
Mas, a vida nem sempre foi assim escandalosa. Esse termo, aliás, não tem nada a ver
com o seu sentido atual. Contam que no passado skand era uma expressão
indo-europeia para designar o ato de pular, escalar, trepar. Depois a palavra
ganhou o sufixo árabe al, passando a significar obstáculo para derrubar alguém.
Muito tempo depois, o latim tardio consagrou a expressão como vergonha.
Acostumamos
a ver essas carinhas santas que desviam milhões numa legítima parceria
público-privada brasileira, num escandaloso jogo que enche o tacho de uns
poucos e rapa o tacho de todos os outros e, sinceramente, sinto que não há ali
nenhuma vergonha estampada. E isto tudo não é capaz de derrubar a chefia. Porque
a chefia é experto na arte escalar. Só pode.
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