27/09/2017

Goebbles tinha razão

Joseph Goebbles
Uma mentira repetida um sem-número de vezes vira uma verdade incontestável. Que o diga Paul Joseph Goebbels, proeminente Ministro da Propaganda de Adolf Hitler, que parafraseio na introdução desta crônica. Com forte poder argumentativo, o político alemão percebeu que as pessoas são manipuláveis e que a propaganda é a arma e a alma do negócio. Naqueles tempos, quando nem o mais visionário dos loucos poderia antever um mundo todo conectado por uma rede que despeja milhões de informações por segundo, Goebbels usou os meios disponíveis: o rádio e o cinema. Com estas ferramentas, abusou do discurso de ódio contra os judeus e contra as ideias socialistas, dando força ao pensamento de superioridade da raça ariana.     
Quem tem como única fonte de informação os meios virtuais nos dias de hoje, pode constatar que Goebbels venceu. Sim: a mentira prepondera. Nem sempre salta aos olhos. Às vezes aparece disfarçada. Parece alguma salada que se consome até por indicação médica, mas, que, lá na origem, vem embalada por fortes doses de agrotóxicos, lançados por insuspeito agricultor mais interessado na beleza das folhas do que na qualidade efetiva do produto. A lagarta morre. A planta sobrevive. Mas, o veneno vem para a mesa. A saúde claudica ao longo do tempo. Porém, o dinheiro já circulou, gerou impostos e empregos. O mercado ficou satisfeito. E tudo parece que estava certo. Mas, não tava.

20/09/2017

Nossas façanhas

Gaúcho, na visão de Debret, século XIX
Houve um tempo em que boa parte do povo gaúcho desfilava com muito orgulho e animação. Aos olhos dos que aqui viviam, este pedaço de terra parecia destoar decisivamente do que se via nas estância localizadas acima do Mampituba. Era comum que se sentisse certa pena do pessoal lá de cima, eis que foram privados do paraíso. Repetiam-se, com alguma exaustão, nos encontros classistas que o Rio Grande detinha a melhor polícia, o melhor judiciário, os melhores políticos e assim por diante.
Alguns afoitos, talvez impulsionados pelos sentimentos de superioridade e pelo ímpeto de gabolice que sempre imperou por aqui, sentiram-se atraídos pelas teses separatistas. Há algumas décadas movimentos como o Sul é o Meu País eram levados a sério. Santa Catarina e Paraná não se entusiasmaram tanto. Os gaúchos ficaram tentando incluí-los sem sucesso. Enquanto isso, os dois estados vizinhos avançaram e a gauderiada ficou para trás. Teve, como se diz popularmente, um crescimento de rabo de cavalo: para baixo.

13/09/2017

Um quadro na parede


Imitação de quadro do pintor
italiano Giovanni Bragolin,
popular no Brasil
Fui à frente conferir que algazarra era aquela. Eram os filhos e filhas da vizinha que apontavam para o quadro Imaculado Coração de Maria de minha mãe, que estava pendurado na pobre sala de casa. Com os dedos indicadores e mínimos de suas pequenas mãos formando chifres que eram direcionados à pintura. “É do diabo, é do diabo”, diziam os vizinhos, crentes recém-convertidos e dotados de incomum fome em caçar na vizinhança os objetos do satanás. No fundo tinham a boa intenção de salvar a humanidade, mas, a ignorância e a intolerância eram tantas que talvez impedissem que salvassem a si mesmos.
Anos depois, na mesma vila e nas vilas de todo o mundo, o alvo foi outro quadro. O Menino Chorando, que se reproduzia aos milhares, foi implacavelmente perseguido. O quadro, segundo os boatos, era maldito. Dizia-se, ainda, que o pintor havia feito um pacto com o diabo e, diante disso, as casas que tinham a pintura na parede estavam sujeitas a incêndios e mortes de crianças. Os boatos iam mais longe: o próprio filho do pintor teria morrido logo após o término da obra. Em alguns lugares do mundo, como na Inglaterra, promoveram-se grandes queimas em praças públicas.
Também o fogo consumiu os LPs de disco music, nos Estados Unidos, no começo dos anos 80. Tudo isso porque um DJ de uma rádio, que não apreciava o gênero, identificou no estilo musical uma ameaça aos valores americanos. Talvez tenha pesado para isso o fato de que as grandes estrelas da disco music eram negras.

06/09/2017

Brasil: esperança e desilusão

Acredito que o Brasil é a grande potência mundial. Não ria. Estou falando sério. Talento natural não falta ao brasileiro. Nem só no futebol, é claro. Na música (música de verdade) há inúmeros cantores e compositores que transitam com alguma facilidade juntando plateias respeitáveis em diversas partes do mundo. Nas artes plásticas, na tevê, na publicidade e propaganda, nos estúdios de produção cinematográfica, na literatura, enfim, há muito brasileiro batendo um bolão no estrangeiro.
Mesmo em alguns setores carentes do olhar dos administradores, como a pesquisa científica, onde os recursos públicos mínguam a cada orçamento, o país ainda consegue algum destaque, colocando pelo menos quatro nomes entre os mais influentes do mundo, segundo aponta estudo produzido pela empresa Thomson Reuter, em 2016.

04/09/2017

Sei lá!

"O grande desafio é saber o que importa neste entulho de coisas. O que se faz com tanta informação? Para quê tanta opinião? E o que o indivíduo realmente ganha em acompanhar tanta notícia, tanta novidade?"

......

Os dias atuais escondem um desafio inimaginável. Lá nos anos 90,  pensadores pregavam que a informação seria a base do futuro. Quem tivesse informação estaria incluído nos novos tempos. Os outros, desinformados, seriam ultrapassados como carroças puxadas por cavalos magros numa estrada asfaltada onde velocíssimos veículos passam sem ao menos levar em conta as placas que anunciam velocidade máxima em 110 km/h.
Meia verdade. A realidade atual é do indivíduo multiconectado: celulares, sites de notícias, televisão, rádio, canais de vídeos, aplicativos e mais aplicativos geram uma atualização simultânea sobre o que está acontecendo no mundo neste exato instante. O tempo em Jacarta, a cotação do dólar, a produção agrícola na china, a bolsa de não sei aonde. É possível saber de tudo. Tudo mesmo. E na hora que se quer.