27/09/2017

Goebbles tinha razão

Joseph Goebbles
Uma mentira repetida um sem-número de vezes vira uma verdade incontestável. Que o diga Paul Joseph Goebbels, proeminente Ministro da Propaganda de Adolf Hitler, que parafraseio na introdução desta crônica. Com forte poder argumentativo, o político alemão percebeu que as pessoas são manipuláveis e que a propaganda é a arma e a alma do negócio. Naqueles tempos, quando nem o mais visionário dos loucos poderia antever um mundo todo conectado por uma rede que despeja milhões de informações por segundo, Goebbels usou os meios disponíveis: o rádio e o cinema. Com estas ferramentas, abusou do discurso de ódio contra os judeus e contra as ideias socialistas, dando força ao pensamento de superioridade da raça ariana.     
Quem tem como única fonte de informação os meios virtuais nos dias de hoje, pode constatar que Goebbels venceu. Sim: a mentira prepondera. Nem sempre salta aos olhos. Às vezes aparece disfarçada. Parece alguma salada que se consome até por indicação médica, mas, que, lá na origem, vem embalada por fortes doses de agrotóxicos, lançados por insuspeito agricultor mais interessado na beleza das folhas do que na qualidade efetiva do produto. A lagarta morre. A planta sobrevive. Mas, o veneno vem para a mesa. A saúde claudica ao longo do tempo. Porém, o dinheiro já circulou, gerou impostos e empregos. O mercado ficou satisfeito. E tudo parece que estava certo. Mas, não tava.
O deputado Jean Willys é uma das vítimas mais assíduas da brasileirada virtual. Toda semana sai algum escândalo. Disseram dias desses que ele estava lançando um filme onde Jesus de Nazaré era gay. Os frenéticos defensores da moral, com alguma ingenuidade ou, talvez, com doses de veneno disfarçado, compartilharam e botaram a boca no trombone. Alguns dias depois o mesmo deputado foi vítima de outro boato que dizia que ele e um artista transexual fariam uma turnê pelas escolas públicas do país num programa de esclarecimento sobre orientação sexual. Nossa Senhora! O plantão moral de novo se arregimentou. De novo, ingênuos e raivosos fizeram uma coligação. E dá-lhe manipulação.
Outra que sofre na mão do pessoal da direita e dos venenosos é a Maria do Rosário. Toda a semana tem algo novo e falso sobre ela que atuou certo tempo na Secretaria de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul. Direitos Humanos, como se sabe, soam muito mal para uma parcela da sociedade.  
Ocorre aqui o que os pensadores definiram como pós-verdade. Não importa se a informação que envolve Jean Willys e Maria do Rosário, ou uma personalidade qualquer, seja verdadeira ou não. Importa que eu não gosto deles porque diferem da minha orientação sexual, política, clubística, racial ou outra qualquer. Então vou compartilhar, mesmo sabendo que existe uma chance considerável de que esteja divulgando uma mentira. Que mal há nisso?
Há alguns dias, um desses cantores sertanejos (juro que não lembro o nome) veio na imprensa e disse que não houve ditadura militar no Brasil. Pimba! O negócio fez sucesso como tudo o que é sertanejo faz por estas terras. Para muitos foi um copo d’água num momento de sede. Compartilhar era necessário.
E assim vai a carroça. Avança em tecnologia retrocede no mundo das ideias. O Facebook diz que está cuidando para evitar que os boatos se transformem em verdades. Mas, como se vê, não tem tido muito sucesso. Os algoritmos fazem com que o usuário receba informações que estão de acordo com seu perfil, retroalimentando um só discurso. Para alguns pensadores, deveria ter a rede social um grupo editorial formado por humanos que classificasse as informações e afastasse a verdade da mentira. Alguém acredita nisso?

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