A argumentação é uma arte. Arte
complexa. Isso porque depende da capacidade do indivíduo em defender uma ideia
e da capacidade de interpretação do outro. Faltando uma das condições, a coisa
não funciona. A comunicação fica truncada. Nem todo o argumento é válido. Alguns são
desprezíveis.
Nos
períodos eleitorais, os políticos carreiristas saem por aí vendendo seu peixe.
Como de regra, tentam ser o que não são. Misturam-se ao povo, comem coisas como
come o povo, mudam as vestimentas para parecer povo, falam como se povo fossem.
Vão às feiras atopetadas de gente, abraçam indiscriminadamente, beijam
crianças, dão tapinhas nas costas de João, de Zé e de Maria Ninguém. Um
assessor ao lado vai dizendo os nomes dos eleitores para causar uma boa
impressão. E o pior é que causa!
Nem
só de feira se vive. As igrejas, elas
também, abriram suas portas para receber estes homens tão necessitados de luz e
tão dedicados à causa da humanidade. Dia desses, um destes candidatos, aliás,
cotadíssimo na corrida pelo primeiro posto da nação, levou seu grupo até uma
dessas congregações. Desconfio que não se verá cena mais grotesca. Uma camiseta
escrita Jesus servindo de embalagem para um discurso armamentista, retrógrado,
homofóbico e chauvinista.
Ora,
a lógica de Cristo era dar a outra face em caso de agressão, era amar
incondicionalmente os diferentes, pois são filhos de um só Deus, era não julgar
o outro porque não há quem não tenha errado antes. A lógica do candidato é
bandido bom é bandido morto, é falar mal dos pretos, dos pobres, dos gays, das
lésbicas e de todos aqueles que não se enquadram no seu mundinho militar. Como
se vê, padrões bem distintos. Posições conflitantes.
Não
considero importante o espectro religioso do político. Aliás, religião é ato de
vontade, é pessoal e intransferível. Cada indivíduo tem o sagrado direito de
ter seu próprio pensamento. A opção religiosa dos outros não me diz respeito.
Se não tiver religião também não me importa. É problema ou solução de cada um.
Neste
caso específico o que mais chama a atenção é a flagrante contradição entre a
proposta do candidato e a filosofia religiosa. A exploração do meio através da
facilitação de pastores que mais desejam o poder do que instruir de maneira
altiva e desinteressada seu rebanho. As ovelhas seguem o pastor. E, às vezes,
esses pastores mostram o abismo como se o paraíso fosse.
Mas,
em campanha eleitoral vale tudo. Os candidatos sabem que o povo tem memória
curta, se informa pelo Facebook, é incapaz de formular argumentos complexos e
vai votar como se uma eleição fosse um jogo de futebol. Vai torcer para um
candidato sem saber quem realmente ele é. E assim segue o jogo que nunca
termina. No final, todos têm culpa e ninguém tem culpa alguma. Não se pode
exigir conhecimento de quem não conhece nem honestidade de quem não tem.
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