Nos tempos de colégio, os
professores, vez por outra, pediam uma composição. Era assim que chamavam o que
se convencionou chamar depois como redação. Vinte linhas era o mínimo que
pediam. Suplício para uns, moleza para outros. Os temas eram abrangentes. As
ideias que apareciam nas composições eram restritas. Não havia muitas fontes de
informação. Entre a população de baixa renda, um rádio na casa era obrigatório.
Uma tevê quase um luxo. Jornais e revistas eram artigos raros.
Um colega tinha uma letra miúda. Numa
linha cabiam dezenas de palavras. A composição dele era formada por pequenas
formiguinhas azuis, quase todas do mesmo tamanho naquele vasto fundo branco
atravessado por linhas negras. Era a exceção à regra. Para ele, convencionou-se
que dez linhas eram suficientes. Dava
para contar sua vida toda, de sua família e, talvez, dos vizinhos mais
próximos.
Outro colega, sem muito assunto
e, talvez, carregado de preguiça, usava de uma estratégia peculiar para
terminar com a tarefa dada pelo professor. Lançava uma letra estapafúrdia,
grande e disforme na folha, deixando amplos espaços entre cada palavra.
Tentava, com isso, preencher as vinte linhas e livrar-se do tema. Poucas letras
para pouca inspiração. A nota, em regra, também era econômica.
Lamentável era a correção pública
que o professor, às vezes, inventava de fazer. Sem muita preocupação em evitar
danos psicológicos, traumas ou essas coisas todas que apareceram bem depois,
elogiava uns e soltava o sarrafo nos mais medíocres. Havia gente que
praticamente entrava embaixo da classe quando tinha seu nome referido pelo
mestre. Como não carrego traumas maiores em relação a isso, creio que tenha
ficado misturado na turma do meio que abrigava aqueles que não protagonizaram
grande fiasco, mas, também, não atingiram a glória.
Creio que daquele grupo de
alunos, este escriba seja o único que semanalmente ainda se debruça sobre um
tema e persiga a meta de completar vinte linhas. Vez por outra se recebe como
pagamento um “olá, li a tua coluna” ou um “preciso dizer que gosto de ler o que
escreves” ou, ainda, um “quando vais lançar um livro?”. Agradeço a deferência,
especialmente por testemunharmos um tempo em que um escrito de vinte linhas já
se caracteriza um textão. E, em regra, no mundo da pressa, da preguiça e da
falta de ideias, muitas palavrinhas seguidas umas das outras gerando um
discurso é coisa que causa tédio.
Tédio nos dias de hoje se combate
com redes sociais que reúnem imagens, opiniões, notícias (quanto mais falsas melhor),
vídeos, sons, movimentos e ejambrações sobre o nada. Assim é.
Ops, passei das vinte linhas.
O amigo é sempre digno de elogio e gratidão por cultuar a palavra escrita, sem preguica e muita criatividade. E mais que isso, promove espaço para outros tantos que comungam do mesmo interesse. E o livro, quando sai? Grande abraco
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