Quando ouvimos a expressão ponto de vista, em regra, pensamos logo
em opinião. Popularmente assim é. Para o senso comum, ponto de
vista, opinião e parecer vem a ser tudo a mesmíssima coisa. Porém,
se estas frutas receberem algum aperto darão origem a sucos
distintos. O ponto de vista é uma opinião mais fundamentada, é um
parente próximo do parecer. Já o parecer carrega no seu íntimo
algum cuidado técnico, algum conhecimento prévio e resulta sempre
em alguma responsabilidade posterior.
Um palestrante, um expositor, um comunicador, por exemplo, quando
desejar entregar para a plateia uma mensagem carregada de alguma
credibilidade usará em seu discurso menos opinião e mais ponto de
vista. Eu acho, então, está descartado. É o fim da várzea. O
enterro da narrativa. O eu acho é quase um acidente: “Estava ali
na rua, olhei para a direita sem muita pretensão e achei tal coisa”.
Tive um professor que detestava o “eu acho”. “Não achas nada,
filho!”, dizia de vez em quando.
Uma das maiores diferenças entre o ponto de vista e a opinião é
que o primeiro pressupõe uma observação, uma visão, uma forma de
olhar, de mensurar, de analisar algo sob um prisma, sob um aspecto.
Não necessariamente uma visão de especialista que vê as coisas com
profundidade e nos detalhes mais ínfimos. Não! Dispensa-se este
grau apurado de exigência. A opinião é, por sua vez, uma análise
rasteira, despretensiosa, desprovida de grande conhecimento e, muitas
vezes, calcada na especulação. É irmã do “eu acho”.
O ponto de vista de um médico sobre determinada enfermidade na
coluna de um indivíduo, sobre as causas e tipos de tratamento em
regra é levado mais em conta do que a opinião de um engenheiro ou
de um arquiteto ou mesmo de um construtor sobre a mesma situação.
Já o ponto de vista de um engenheiro, de um arquiteto ou de um
construtor sobre as formas de conceber uma coluna em uma construção
de um prédio tende a ser mais valorada do que a de um especialista
em complexa cirurgia, por exemplo.
Essa questão pode parecer desimportante. No entanto, se analisarmos
com um pouco de atenção podemos constatar que os indivíduos
definem suas experiências a partir de pontos de vista. No dia a dia
isso faz diferença. Um indivíduo materialista conceberá o mundo
diferentemente de um espiritualista. Serão mundos distintos. Não
cabe, de forma alguma, seguirmos aqui o caminho da busca por definir
se este é melhor ou pior que aquele. Essa discussão é inócua,
desnecessária. Uma coisa é certa: enxergam coisas diferentes. Se
compreendem o mundo diferentemente logo vivem diferentemente.
Nos dias atuais, onde a pressa é a norma, há mais opinião do que
qualquer outra coisa. A vivência virtual exige certa rapidez no
gatilho. Se demorar muito a fila vai andar e o burburinho será
outro, o escândalo já estará esquecido e as atenções se
bandearam para outras instâncias. As polêmicas vão sendo superadas
rapidamente e as postagens vão sendo apagadas. Como rescaldo ficam
alguns estranhamentos entre os donos de opiniões.
Joseph Campbell, escritor norte-americano, muito antes das rusgas da
comunicação instantânea preconizava que “compreender que há
outros pontos de vista é o início da sabedoria”. No reino do
barulho, como se vê, a sabedoria disparou léguas de distância e
nem ao menos olha para trás.
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