A placa diz PARE.
Colocada num cruzamento de duas vias no interior de Maquiné, o sinal
de trânsito recebe um acréscimo. Alguém, com alma de vândalo
poeta, grafou em letras pretas: “não pare de sonhar”. Não
obstante o flagrante dano ao patrimônio público, o alerta ou
desabafo de um desconhecido pode ser um conselho extremamente válido
nos dias de hoje.
Enquanto a cidade
descansa: a menina sonha. No dia seguinte encontrará aquele que a
fará feliz. Será por acaso. Caminhando num dia chuvoso, feio,
baterá de frente com seu guarda-chuva no rapaz. Quase o derruba na
calçada molhada. Ele sorrirá como um príncipe. Ela, estabanada,
não conseguirá falar. Não sabe se dá atenção ao guarda-chuva
que caiu, ao seu celular que se estatelou no chão ou ao rapaz.
Murmurará um desculpe-me que não sairá de sua boca. Ele continuará
a sorrir. E depois seguirá seu caminho. A menina, por sua vez,
lamentará não ter falado, não ter explicado, não ter trocado o
número de telefone. No fundo, sonha que o verá de novo.
O menino sonha que é
invisível. Que à noite vigiará os passos da sua amada sem ser
notado. Na realidade, ela não desconfia disso. Nem ao menos sabe que
é amada, que é querida. Não desconfia que é vista com lentes de
aumento. Não desconfia que seus passos são seguidos por olhos
invisíveis. E quando deixa o banho e nua se dirige ao quarto, sente
um estranho pressentimento. Rapidamente pega a toalha molhada e
reveste seu corpo adolescente. Ri para o espelho. Talvez esteja
louca. Ela está só no quarto. Ninguém a vê. São apenas seus
olhos que enxergam seu rosto ainda úmido, seus cabelos molhados e
escorridos, sua pele clara e sua bela magreza no espelho do
roupeiro.
O outro sonha com uma
máquina do tempo. É uma máquina complexa. Ocupa uma sala inteira
de um laboratório. Entrou ali não sabe como. Talvez faça parte de
alguma pesquisa ultrassecreta, destas que os americanos tanto gostam.
Talvez tenha entrado por acaso, num descuido da segurança. Talvez
faça parte da equipe de limpeza. Não tem certeza de nada. Sabe
apenas que não sabe operá-la. Tem até medo de entrar nela e ser
transportado para um tempo muito distante. Um tempo sem volta. Por
outro lado, pensa que pode mudar a história. Pode, também,
bagunçá-la. Olha a máquina com admiração e respeito. Quem dera
pudesse programá-la para viver outras histórias. Quem dera soubesse
operar aquilo para visitar o tempo e o espaço que nunca lhe
pertenceram.
A jovem não consegue
dormir. Deita, mas os pensamentos se sucedem. Seu corpo não sossega.
Seu cérebro não apaga. Um amigo disse certa vez que o nosso cérebro
tem um monte de miquinhos e eles ficam pulando sem parar. Adestrar
estes miquinhos é tarefa das mais pesadas. Pô-los a dormir é
estafante. Porém, se o sono não chega se sonha acordada. E uma
música do Chico, seu novo amigo, a leva a uma pista de dança.
Tatuagem ou Sob Medida, não importa! Ela escolhe seu par e se
diverte. Como se não houvesse amanhã.
O atacante holandês
sonhava com um pênalti. Sonhava levar seu time ao título. Tentou
uma, tentou duas, tentou três. Na terceira vez seu sonho se
consumou. Depois se arrependeu.
Disse que preferia ser
honesto. Que o pênalti não ocorreu. O rápido holandês tem lapsos
de atacante brasileiro. Títulos é o que ele quer.
O goleiro, por sua vez,
chorou copiosamente. Disse que carregou no seu peito durante quatro
anos um sonho: guardou no seu íntimo uma resposta. E ela tinha que
ser dada. Queria fazer justiça. Queria enterrar seus
fantasmas.Conseguiu. Mas não chegava. Queria mais. Sonhava com muito
mais do que uma vitória sofrida.
Alguns, porém, colocam
os seus sonhos nos pés dos outros. Há muitos dos nossos que
sonharam que os chilenos eliminariam o Brasil na Copa. Guardaram seu
sonho para a outra semana. Agora sonham que os colombianos assim
farão. O sonho maior, na realidade, nem é esse. Sonham que os
argentinos, sob a batuta de Messi, imporá fiasquenta derrota. Sonham
com a chegada do mês de outubro, quando uma nação chorosa e
desiludida derrubará Dilma do poder. Não contam com o imponderável.
Sonham.
Nesta altura do
campeonato, os sonhos de alguns bem que podem ser os pesadelos de
outros.
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