26/04/2017

Outros tempos

Os tempos são outros. As pessoas são outras. As diversões são da mesma forma, outras. Mas, os dramas se repetem. As preocupações de pais e de mães são os mesmos de 20, 30, 50 anos atrás. Lá no passado, meio distante é verdade, tudo o que era novo representava a falência do indivíduo e da família. Foi assim quando surgiu o rock and roll, nos anos 50,nos EUA. A música alta, frenética, punha corpos de jovens a dançar loucamente. Meninos e meninas saíam do sério. O ritmo demoníaco mostrava que o mundo chegava ao seu fim.
A televisão foi outra que chegou causando certo furor. No começo, porém, era programa de família. O pai ligava o aparelho no começo da noite. Naqueles tempos, ligar o botão e selecionar um canal para assistir um ou outro programa era um acontecimento. A presença do chefe da casa era o reconhecimento explícito de que ver tevê era coisa séria. Os pequenos não eram autorizados nem a pensar na ousada iniciativa de ligar o aparelho fora do horário estabelecido.

17/04/2017

O Medo da Arte

Um filme, uma música, uma pintura, uma obra de arte qualquer vai além da câmera, das luzes, dos enquadramentos, da edição, da partitura, do arranjo, do ritmo, ou da tela, dos pincéis e da moldura. O expectador assiste a um filme não como se residisse ali alguma falsidade, alguma interpretação. A história existe por si só. Ela é viva. Ficção científica, comédia, drama. Não importa: há verdade, dor, riso, sofrimento e tudo o quanto os personagens revelam nos diálogos, nos atos e nos gestos.
Uma pintura bucólica deixa de ser uma simples pintura quando recepcionada por um olhar acolhedor e sincero. A tinta deixa ser tinta. Ganha vida. Envolve e convence. Emociona se o sujeito assim permitir.

10 anos: o desafio

Manter órgãos de imprensa nos pequenos centros é um desafio diário. Rádios e jornais locais navegam contra a maré, permanentemente. Os grandes anunciantes preferem gastar muito dinheiro nas redes nacionais e regionais. Criam, com isso, um padrão. Não importa se o indivíduo está nos interiores do Nordeste ou enfrentando o outono às vezes frio e às vezes quente no Sul do país: todos sabem que ingresso para o Rock in Rio tem lá no Posto Ipiranga.
A verba se esgota na rede nacional. Dá visibilidade. Vende bem. Afirma a marca. Uma corrida pelas ruas da cidade, um circuito pelas lagoas, um show de jovens talentos na praça da cidade, uma campanha de solidariedade  ou uma iniciativa qualquer importante dentro de uma comunidade não seduz o grande anunciante nem a grande mídia. Ali não está o Posto Ipiranga.
A dificuldade aumenta quando a crise aperta. Na província então, o aperto é sentido com maior intensidade. A primeira ação de um pequeno empresário é não confiar em publicidade.  Em sua contabilidade verá publicitária como gasto nunca como um investimento. E há razões concretas para isso: há encargos e mais encargos, custos fixos e variáveis que crescem sem o necessário crescimento das vendas e uma série de outros eventos que os administradores têm na ponta da língua. Enfim, um ciclo que parece nunca acabar.

06/04/2017

O Futuro

Em regra, a ficção científica apresenta um futuro sombrio para a humanidade. Nosso planeta passará por uma séria fase de desatinos até que a vida por aqui se torne insuportável. A humanidade, então, tratará de criar alguma forma de garantir que meia dúzia de seres sobreviva à hecatombe. Esse minúsculo grupo sairá por aí tentando reconstituir tudo o que foi destruído pelo desatino da grande maioria ou, ainda, pela insensatez de algum poderoso líder, movido pela ganância, que comprometeu a existência humana.
O grande problema para os remanescentes será viver entre os escombros ou em alguma estação espacial. Se ficarem por aqui, certamente enfrentarão a radiação que infectará os recursos naturais. Se, por outro lado, ficarem orbitando em algum ponto do espaço, é mais do que certo que precisarão de um porto seguro.

03/04/2017

Filme Triste

A impressão que se tem nestes dias é de que vivemos em uma embarcação perigosamente lançada em meio a corredeiras. O capitão tem pouca prática. Os marujos, da mesma forma, são especialistas em juntar tesouros, porém, mal sabem executar as tarefas que garantam alguma segurança à tripulação.  O serviço que importa este momento: cruzar as águas violentas e traiçoeiras não é prioridade. Estão todos, capitão e marujos, preocupados em posição de defesa, escondendo os baús cheios de moedas de ouro e pedraria que amealharam aqui e ali. Faz-se irritante silêncio. Dizem as más línguas que acordos são costurados aqui e ali. Muito confete, muita serpentina, muita manchete e ações deliberadamente lentas para um lado e rápidas para o outro. O enredo é arrastado. Os mocinhos são canastrões. Só os ingênuos não enxergam que estamos diante duma peça de teatro mal ensaiada. Os atores são medíocres. Mas convencem quem quer se convencido.

O Governo

Quando surgiram por aqui, os humanos tinham como única meta a sobrevivência. As questões filosóficas não faziam parte das preocupações cotidianas. O objetivo básico era manter-se vivo. E não eram poucos os obstáculos: as temperaturas extremas, as feras, a falta de recursos, a falta de conhecimento. Viver mais um dia era um desafio.  A felicidade possível era a possibilidade de dormir e acordar para enfrentar um turbilhão de dificuldades. Deus não existia ainda. O paraíso não era aqui.
Como vasos ruins, os mais fortes não se deixaram quebrar. Com raro esforço, foram vencendo o frio, as tempestades, os trovões, a falta de comida. Eliminaram os inimigos naturais um a um. Chegou um tempo, depois de muito suor, de sofrimento e de medo que alguns poucos puderam estender o olhar para o entorno. Já não havia tanto perigo. Já sabiam defender o corpo. Já eram maiores que as feras que outro dia os eliminavam.