Nesses dias de luta aguerrida, de tentativa desesperada de construção
e desconstrução de verdades, de vitórias e derrotas, de sonhos, de
sobressaltos, de aparente caos e de paraísos prometidos, acorda-se
como se um porre gigantesco tenha acometido mesmo os abstêmios.
Gente que se manteve por anos de boca fechada saiu por aí gritando
suas palavras de ordem, repetindo mantras recém-descobertos
prometendo salvação a quem nem desejava ser salvo. O barulho foi
grande. Os resultados das urnas são conhecidos. Os efeitos não.
Para muitos restou uma dor na alma, uns familiares que se tornaram
distantes, uns amigos que nem amigos eram e que menos amigos ainda se
tornaram. As percepções são individuais, é claro. Mas, não se
duvide do tamanho do trauma que pode se operar nos relacionamentos.
Para alguém, o bolo saboroso da tia amada, que traiu a confiança e
se bandeou para o outro lado, perdeu o gosto. Tanto quanto o bolo, a
tia perdeu a graça. A confiança se afastou. Talvez volte, talvez
não.