O foco da existência humana deveria ser a construção da
felicidade. Não é. A educação formal, por exemplo, tende a se
expandir na busca da construção de uma carreira rentável que
proporcione uma boa renda para a aquisição de bens. Dinheiro,
imóveis, conforto, viagens, boas roupas, uma boa imagem são os
ideais de vida, na atualidade. O ideal de vida meio que se confunde
com o status de felicidade ostentado nas redes sociais. Ao mesmo
tempo que se expande para um lado, o processo educacional se
restringe por outro: bem-estar, satisfação, construção de um
caminho mais livre e, até certo ponto, despreocupado com os bens
materiais e o culto à imagem perdem espaço cada vez mais.
A educação tende a correr cada vez mais em direção ao mercado.
Formar profissionais que possam construir carreiras de sucesso é a
norma. A competição começa cedo. A busca pelos melhores não poupa
ninguém. Algumas décadas depois da implantação deste tipo de
filosofia, que prega a luta desenfreada pela vitória profissional,
pela carreira que dá visibilidade, status e grana, ocorre uma tímida
retração. Ocorre que o mercado está saturado de profissionais
competentes e infelizes. Gente que faz o que pensou que era o correto
e abandonou seus talentos e seus sonhos porque estavam ligados a
coisas que não davam dinheiro.
Não é difícil encontrar matérias jornalísticas e depoimentos de
altos executivos que largaram tudo e saíram por aí a fazer coisas
simples e prazerosas. Profissionais altamente qualificados que deram
uma guinada na vida e decidiram fazer outra coisa, com menos
cobrança, menos stress, muitas vezes com ganho financeiro menor, mas
com mais satisfação e prazer. A Universidade Federal de Santa
Maria, seguindo o exemplo das universidades de Brasília e das
americanas Harvard e Yale, recentemente implantou a disciplina de
Felicidade e Ética nos cursos da área de humanas. O professor de
filosofia Dejalma Cremonse, destaca que “não é possível ensinar
felicidade”, acrescenta que “são vários os conceitos que podem
ajudar para construção de uma vida melhor”. Lembra que a
disciplina não tem conotação religiosa nem ideológica. “Cada um
tem que descobrir dentro de si quais razões podem tornar o indivíduo
mais feliz”.
O professor destaca que a felicidade está nas coisas simples, e que
a correria de todo o dia cria uma cortina que impede que as pessoas
percebam isso. Os estudantes, em geral, procuram um curso que dê bom
retorno financeiro, mas, com o tempo, acabam abandonando os estudos
ou trocando de curso, pois percebem que não gostam daquilo ou seguem
o impulso e a pressão familiar.
Muito embora, religiosamente exista uma norma, um decreto que
estabelece peremptoriamente que “a felicidade não é deste mundo”,
estando ela reservada a outras esferas menos acessíveis ao homem
comum, sempre é positivo que o indivíduo ao menos busque dias
melhores na sua existência. A referência mais antiga sobre a busca
da felicidade é encontrada em Tales de Mileto, filósofo grego, que
viveu sete séculos antes da era Cristão. Para ele, “feliz é quem
tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. Acreditava
Demócrito de Abdera (460 a.C./370 a.C.) que a felicidade era “a
medida do prazer e a proporção da vida”. Para ele, o homem
precisava deixar de lado as ilusões e os desejos e alcançar a
serenidade. A filosofia era o instrumento que possibilitava esse
processo.
Falar de filosofia e não recorrer a Sócrates soaria quase como um
pecado. E não estamos aí para cometer este deslize. Então, na
visão socrática, ela não se relacionava apenas à satisfação dos
desejos e necessidades do corpo, pois, para ele, o homem não era só
o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade era o bem
da alma que só podia ser atingido por meio de uma conduta virtuosa e
justa”.
Muitos outros vieram depois e se ocuparam do estudo da felicidade
propondo variações maiores ou menores conforme a visão da
existência humana e dos propósitos de cada ser. Por incrível que
pareça, nestes tempos em que as bocas e as mentes quase que
automaticamente enviam mensagens de felicidades pela passagem do
tempo, pouco se pensa na dificuldade que a humanidade vem encontrando
em construir caminhos mais simples para atingir um estágio de mais
satisfação, mais harmonia, maior plenitude, mais paz e mais
felicidade para todos os que se encontram por aqui neste momento.
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