12/12/2010

O amigo secreto

Há algumas coisas que não podemos deixar de fazer, mesmo contrariando nossa vontade.  Nesta época então, de Natal e final de ano, crescem sobremaneira estas situações. Uma delas é participar do amigo secreto, amigo oculto, amigo x ou outro nome qualquer que a brincadeira possa receber. Fora de questão está, por exemplo, ser o único a não participar do amigo secreto em nosso local de trabalho. Ficar de fora não é uma boa atitude. 
Já que é inevitável mesmo, alguns cuidados devem ser tomados, especialmente se houver o clássico momento da revelação. Cuidado, muito cuidado na hora de caracterizar o nosso amigo. Atenção, não é hora da desforra! Não é hora de jogar na cara do sujeito aquela verdade que ficou oculta, escondida secretamente em nosso íntimo. Não é de bom tom usar este momento para a vingança, mesmo que lá no íntimo resida a certeza de que o sujeito bem que merecesse.
Mensagens subliminares também não são indiciadas. Assim, evite incluir em sua mensagem coisas do tipo reclamar de salário, de falta de valorização. Isto também não é muito legal. Especialmente se a chefia estiver presente.  Existe sempre a possibilidade de que, semana que vem, alguém anuncie alguma reengenharia na empresa. Assim, se o negócio não está muito bom, lembre-se, pode piorar. Vamos que a peça sobressalente no seu trabalho seja exatamente você. 
Vamos lá, criatividade e, acima de tudo, pesquisa. Cuidado, não use a ferramenta da pesquisa avançada. Preferência religiosa, conotação sexual, vício ou alguma coisa estritamente pessoal também não é bem vinda nesta hora. Atenção, muita atenção. Evite, por exemplo, expressões no estilo gordinho simpático, gostosona, pinguço, casca grossa e...  sei lá, afinal não posso adivinhar quais outros colegas que o amigo leitor possa ter.
A revelação é sempre um momento de suspense, especialmente se no nosso meio encontra-se alguém que tem o costume de falar o que não deve. O inconveniente ou, ainda, a Ofélia. Forma-se uma verdadeira torcida. Quem será a vítima? Ufa, ainda bem, desta vez não pisou na bola! Cuidado com o nome. Não vale chamar Simão de Macaco, Salvador de Jesus. Cuidado, muito cuidado, especialmente se o nome do chefe for confundível. “Meu amigo secreto é o meu querido chefe... O Seu.. O Seu... Marreco... Desculpa .. é o Seu Pinto!”. 
A escolha do presente também é uma situação que pode se revelar uma verdadeira armadilha.  Não é legal, por exemplo, ofertar aquele vinho especial para alguém que é alcoolista notório. Ou uma piteira para aquele que está se tratando para deixar o vício do cigarro. Atenção, muita atenção! Se a preferência for por roupa, não dê peça íntima. Cuecas e meias, então, nem pensar, a menos que o colega esteja em Brasília, participando de alguma negociação. Control, alt, Del.  Em caso de dúvidas, dê havaianas. Todo mundo usa!
Canecas, copos, quinquilharia assim, baratas, úteis, são as dicas para quem não quer errar. A boa saída é se fixar na paixão clubística. Mas aí também há de se ter cuidado. Evite dar uma caneca do Grêmio para um torcedor do Inter. Ele não vai achar graça nenhuma!
O certo é que esta é uma daquelas raras oportunidades que temos de confraternizar, de espírito aberto. No entanto, sempre é bom tomar todas as cautelas para evitar transtornos e, com boa dose de vigilância, evitar que um momento doce se transforme numa dor de cabeça, que pode durar bem mais do que deve.   

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