15/12/2010

Papai Noel fuma charuto e bebe Coca-Cola

A figura lendária do Papai Noel ganha, nestes tempos, um destaque extraordinário. Ela ativa em todos pelo menos dois sentimentos o de dar e o de receber. Vocacionado marqueteiro, midiático, o Bom Velhinho é o grande personagem do momento. Sua imagem, porém, foi sendo construída ao longo dos séculos até chegar ao que é hoje, um idoso fora de forma que usa roupas inadequadas ao Sul do Equador.
Conta-se que São Nicolau, bispo católico, é a origem histórica de Noel. Em sua cidade três irmãs em idade de casar, de família pobre e sem condições de oferecer dote, viviam as agruras dos excluídos. As opções seriam a solteirice eterna ou a prostituição. Conhecedor do caso, o Bispo Nicolau rondou a casa e, à noite, jogou três saquinhos de moedas para amenizar a dor do paupérrimo pai. Um deles foi jogado pela lareira e caiu dentro de uma meia colocada estrategicamente para secar. Divulgada a história, difundiu-se na comunidade o hábito de presentear os desafortunados.
Bem depois, no início do século XIX, nos EUA, surgiu um poema natalino anônimo, intitulado Twas the night before Christmas (Era a noite anterior ao Natal) que se tornou peça obrigatória nas casas americanas. Thomas Nast, filho de imigrantes alemães pobres, analfabeto, desenhista de primeira linha, adaptou o poema lido insistentemente por sua mulher, dando origem ao embrião do que seria o Papai Noel do futuro. A gravura, publicada na capa da revista  Harper’s Weeklys mostra o velhinho Saint Claus, vestido com roupas nas cores azul, amarelo, vermelho e verde, distribuindo  presentes para soldados americanos metidos em uma das tantas guerras. Em outras ele apareceria fumando cachimbo.
As imagens fizeram muito sucesso na época. Em 1931, tentando conquistar a garotada a Coca-Cola adaptou a imagem de Saint Claus, mudando a cor de sua vestimenta para vermelho e branco, as cores da empresa. A imagem, impulsionada pelo sucesso do refrigerante, percorreu o mundo e se transformou no padrão global. Tanto que hoje, quando se fala em Papai Noel é o mesmo velho do cartaz da Coca que aparece em nossa mente. 
Neste vai e vem, pouca coisa do verdadeiro Natal resiste. Período onde afloram, para boa parte das pessoas, os sentimentos de fraternidade, de doação, de entrega, o das festas de final de ano por muitos outros é visto como de tristeza, de melancolia. O encanto do Natal parece ser mais verdadeiro, mais legítimo enquanto nos encontramos na infância, envolvidos com nossos sonhos, imersos em preocupações momentâneas. Ainda distantes das preocupações reais que as perseguirão a partir da adolescência, vivem as crianças seus tempos mágicos, de fantasia, de descobertas.
É possível, como se viu até aqui, escrever inúmeros parágrafos sem ao menos tocar na figura mais importante no período natalino, no mundo ocidental. Jesus Cristo, exemplo de bondade, de amor e de justiça, frequentemente é esquecido justamente na data escolhida para lembrar seu nascimento. Situação irônica esta! A presença, mercadologicamente conveniente do Papai Noel, com seu sorriso padronizado, distribuindo presentes, trazendo alegria por onde passa, tomou conta do panorama. 
O mensageiro da paz e do amor, por sua vez, poucas referências têm merecido. Talvez por aí, resida a melancolia, a tristeza que alguns captam neste período. A alma não é tocada pela troca dos presentes, pelos sorrisos padronizados. Um afago sincero, um abraço quente e amigo, sem o “oh, oh, oh”, custam muito pouco. Papai Noel vende. Por outro lado, a manjedoura, que recebe seu menino ilustre, não passa de peça de decoração. Os valores que representam não são vendidos. São ofertados graciosamente aos homens!

Noel, de Thomas Nast


    

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