O sofrimento dos cariocas, acossados por tiros de todos os lados, pela opressão do tráfico, pela invasão de policiais, começou há pelo menos 40 anos atrás. O Estado de Direito deixou de existir nas zonas mais pobres. O malandro carioca, que viva de pequenos delitos, ingênuo, divertido, sumiu do mapa. É peça de museu. Em seu lugar surgiram outros tipos, nada ingênuos. Dispostos a comandar o pedaço, constituíram um estado próprio, cuja economia se baseou no comércio de drogas.
O estado da marginália governou por muito tempo. Acostumados à impunidade, criaram normas de conduta, tribunais e até mesmo programas sociais. Conveniência política e incompetência administrativa, dizem os especialistas, foram os responsáveis pelo fortalecimento deste governo da delinquência. Teve tempo para tomar corpo, crescer e se tornar indispensável para muitos. Milhares de cidadãos, residentes nestas zonas hoje em conflito, não conhecem outra realidade.
A intervenção estatal, efetivada a partir da semana passada, foi uma verdadeira operação de guerra. E não poderia ser de outra forma. Entranhada no morro, conhecedora de todo o terreno, a marginalia se preparou como pode para resistir. Tal qual nos cenários de guerra, obstáculos como barricadas, veículos em chamas, pelotões fortemente armados recepcionaram os agentes do Estado. No meio de tudo isso, uma comunidade apavorada, homens, mulheres e crianças correndo como podiam, se escondendo precariamente.
Bandidos em fuga, polícia chegando ao topo, hasteamento de bandeira. Sinais de conquista. A comunidade na tevê. Gente que escondia o rosto, que só concedia entrevista com o compromisso de distorção de voz, se mostra na tela. Falam em esperança, em fé.
O Rio de Janeiro, com o auxílio das forças institucionais, entrou em campo. O jogo, porém, não é fácil. Um dos tempos já acabou. O campeonato está em aberto. Paciência, organização, atenção e insistência não devem faltar aos governantes e ao povo. De cá, longe da guerra, nos resta torcer e orar para que o Estado de Direito se restabeleça. Os cariocas merecem. Nós todos, brasileiros, merecemos. Queremos de volta os postais do Rio, não a guerra, muito embora hoje ela seja justa e indispensável.
Feira do livro
Por aqui, iniciou segunda-feira, a 25ª edição da Feira do Livro. O Largo dos Estudantes está lotado. Barracas, livros, shows. De volta o burburinho dos grupos de estudantes, pequenos futuros leitores, conduzidos pela mão por diligentes professoras, com uniforme e crachá de identificação. Desfilam com alegria. Olhos atentos, envoltos na magia do livro.
A Feira vai até domingo. A programação está recheada. Nossa feira é quente. Aproveitemos, portanto. Diz-se que o livro em papel está em fase de extinção. Vem aí o livro eletrônico. Frequentar a Feira, portanto, tem um componente histórico. Apostam que seremos testemunhas do fim do livro impresso. Folhear as páginas, sentir o cheiro da tinta e da capa de um livro novo será coisa do passado. Veremos!
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