Na terça, 12 de outubro, foi o Dia das Crianças. Para muitos foi um verdadeiro Natal antecipado, no seu sentido mais mercadológico possível. Pais e mães correndo para as lojas com o intuito de comprar algum brinquedo ou bem de consumo mais duradouro.
Agradar estas feras não é fácil. A tevê tem nas crianças um público consumidor de grande poder. Eles recebem primeiro os avanços tecnológicos, eles opinam em tudo, querem ser ouvidos em todas as questões da casa. Os pais, que não têm muito tempo para ouvi-los, acabam optando por conjugar os verbos comprar, presentear, ceder e tantos outros verbos como se isso tivesse o condão de desonerá-los e remediar a falta de convívio.
Sou do tempo que criança não tinha muitas regalias. De orçamento curto, conforme a maré até inexistente, a família não nos dava muita esperança nestas datas festivas. Natal, Páscoa, dia disso e daquilo eram dias comuns. Uma bola de borracha, chamada Bola Pelé, era o máximo que aparecia por lá. Quando furava sua consistência mudava e ficava dura e irregular. Mas era suficiente para umas boas peladas, que avançavam até o último raio de sol.
A chegada da escuridão nos mandava embora. Sujos, cansados, famintos, com alguns espinhos cravados na sola dos pés, com pequenas lesões nas canelas, nos recolhíamos contrariados, atendendo ao décimo grito de nossa mãe. Um banho não muito intenso, um pedaço de pão e um café ralo. E fim de dia. Vamos para a cama que amanhã tem mais!
As crianças da atualidade são diferentes. Não poderia ser de outra forma. Com os meios disponíveis recebem num dia carga tal de informação que, na nossa infância, levaríamos alguns anos para obtê-la. Os fatos se sucedem com rapidez absurda. Nossos pequenos têm tantas tarefas, têm tantos planos, vivem tão intensamente que, à vezes, parece que não temos mais fôlego para acompanhá-los.A chegada da escuridão nos mandava embora. Sujos, cansados, famintos, com alguns espinhos cravados na sola dos pés, com pequenas lesões nas canelas, nos recolhíamos contrariados, atendendo ao décimo grito de nossa mãe. Um banho não muito intenso, um pedaço de pão e um café ralo. E fim de dia. Vamos para a cama que amanhã tem mais!
Há algum tempo era comum os pequenos beijarem a mão dos avós e das pessoas mais antigas. O aparelho de tevê, uma caixa enorme fincada no meio da sala, só era ligado pelo chefe da casa, ainda assim com horário específico. Até o rádio de mesa não era coisa de criança. Hoje os costumes são bem outros. São os filhos que dominam a tecnologia, que primeiro descobrem como funciona aquele celular novo, como se acessa a informação tal e como se configura isto e aquilo. Vejam bem, até os verbos mudaram: ontem era ligar; hoje é acessar, configurar e assim por diante.
O que mais surpreende é a mudança radical de postura frente ao presente. Hoje os pequenos não se contentam em recebê-lo. Não! Querem, antes de qualquer coisa, escolher o que devem receber. E, o pior, muitos pais se submetem aos caprichos e, tolamente, ainda se sentem culpados quando não têm possibilidade de atenderem aos mandos dos pimpolhos. Ora bolas, aí já é demais! Situações como estas não podem acabar bem!
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