21/10/2010

A guerra religiosa e a campanha eleitoral


Dilma Rousseff - Aquarela sobre foto

José Serra - Aquarela sobre foto
A guerra religiosa em que se transformou o debate do segundo turno da eleição presidencial é desagradável, dispensável e quase nenhuma contribuição oferece ao esclarecimento e ao convencimento do cidadão. O espaço, que seria destina para a reflexão sobre os grandes temas nacionais, sobre os investimentos futuros, sobre as diferenças entre os projetos dos dois candidatos, tomou outro rumo. O período de propaganda eleitoral transformou-se num cansativo blá-blá-blá de lideranças religiosas.
E não se pense que o rumo escolhido foi involuntário. As lideranças partidárias bem sabem que 25% dos eleitores pertencem a alguma crença mais tradicional, onde a salvação é vista como um presente dado por Deus aos escolhidos. Neste mundo, conforme suas convicções,  há dois povos distintos o povo de Deus e os pecadores, também conhecidos como os ímpios.

Na campanha eleitoral, ao invés de contribuir, o palavrório apaixonado de alguns “líderes” de algumas das milhares de seitas existentes no território nacional, tende muito mais a criar conflitos religiosos, o que, cá entre nós, é algo desnecessário. Descolar a administração pública da orientação religiosa foi uma luta de décadas e a insistência com o tema vem aparecendo coloca o debate na via inversa deste caminho. 
Claro que as armas usadas nesta guerra são as mais sórdidas. O boato, tão frequente no mundo político, as mentiras, as expressões de duplo sentido são utilizadas para enganar o eleitor. A boataria encontrou na internet um terreno fértil. Uma mensagem sacana, enviada por e-mail, é replicada e reenviada aos contatos como se fosse uma bomba. Cuidado! Sempre vem com uma mensagem alertando para a necessidade de esclarecimento do eleitor.
Acredito que os partidos políticos nesta época de campanha criem estruturas visíveis, as assessorias de marketing, de projetos, de captação de recursos, de pesquisas, entre outras. E uma invisível. Num canto qualquer, talvez bem fora do comitê central, deve funcionar uma central de distribuição de boatos. 
Ali, homens e mulheres, embalados por litros e litros de café forte, se movimentam nervosamente diante de computadores, criando textos, juntando fotos, bisbilhotando arquivos, montando material difamatório sobre o candidato adversário. Neste setor o plantão é permanente. Ninguém pode arredar o pé do local. A alimentação é trazida pelo entregador. Pizza, xis, refri.  O material produzido, só será enviado se mostrar-se potencialmente ofensivo, capaz que causar indignação e irritação.
Os meus contatos que insistem em enviar material deste estilo ficam sob suspenso neste período. Não importa a quem se destina a difamação. Deixo-os de quarentena. Depois do pleito volto a creditá-los. Até lá, deleto! Afinal de contas, tenho muito mais coisa a fazer do que ficar às voltas com boatos e mentiras. 
Na busca pelo poder, parece que vale tudo. Todas as armas parecem justas. Os eleitores devem tomar cuidado. Nem sempre quem promete a salvação, mesmo invocando o nome de Deus, está sendo sincero. Falta pouco para o grande dia, o da definição. Tomara que o embate não fique somente na esfera religiosa. Religião é um sentimento individual. Elegemos a nossa conforme nosso conhecimento, necessidade, convencimento e fé.  Todas as crenças devem ser respeitadas. Não deve a religião ser joguete nas mãos de quem busca tão somente o poder político.    

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